Carta de páscoa 2020 aos irmãos do mundo inteiro. Eric LOZADA

Filipinas, 12 de abril de 2020

Eu ressuscitei e estou com vocês. Aleluia. (cf. Sl 139,18)

Queridos irmãos,

Como muito de vocês, estou vivendo em quarentena, e é daqui, deste meu eremitério, que escrevo para vocês. Este claustro imposto é um excelente convite para a adoração diária, para a meditação do Evangelho, para o dia de deserto, para a revisão de vida, para rezarmos pelo mundo, em particular pelos pobres, com fidelidade, intensidade e concentração. Uma vida de solidão e oração de qualidade é nosso humilde ato de caridade para com nosso mundo que vive esta pandemia.

Olhando pela minha janela, observo os sinais de uma nova vida na natureza. Aqui está seco e úmido, no entanto, os pássaros estão tocando e cantando seu único repertório de canções, as borboletas voam lentamente de flor em flor em busca de néctar, as árvores estão verdes e dão sombra, apesar do calor escaldante. É maravilhoso como a natureza tem sua própria maneira de anunciar a ressurreição. Sem preocupações e abandonando-se completamente em Deus que cuida dela.

Nós, humanos, deveríamos ser uma raça superior por causa de nossa razão, mas esta mesma razão tem enfraquecido sistematicamente nossa confiança em Deus no dia a dia, e acabamos confiando mais em nosso pensamento egoísta. Esta forma de pensar tem sido a causa da violência, do ódio e da desconfiança. A ressurreição oferece o perdão, o amor e a confiança. O mundo deve escolher.

Estamos em quarentena comunitária até o dia três de maio, mas os padres tem passe livre para trabalhos litúrgicos e de caridade. Eu os utilizo todos os dias para visitar pessoas que me convidam a acompanhar os moribundos e as famílias enlutadas, para facilitar o diálogo nas famílias e dar comida e dinheiro àqueles que foram demitidos de seus trabalhos. Alguém me pediu para dar atenção a estas pessoas desamparadas, principalmente porque elas não podiam ir à igreja e rezar. A Presença, levada pela minha presença no meio delas, é um bálsamo que as conforta.

Ao mesmo tempo, estou tendo muito cuidado, seguindo os protocolos de higiene e distanciamento para não prejudicar ainda mais a comunidade. Hoje de manhã, meu amigo Lemuel chegou ao eremitério com muita fome, parecendo abatido, pedindo comida para seus quatro filhos famintos. Lemuel foi demitido. Enquanto lhe dava alguma coisa para comer, me senti abençoado por sua alegria, mas também senti a incerteza em seus olhos.

Após a oração desta manhã, dou uma longa olhada no mapa que está na minha parede. Meus olhos se fixam sobre os quatro continentes: África, Europa, Ásia e Américas. O vírus é realmente um grande equalizador, porque os países ricos e pobres estão sofrendo da mesma maneira. Vejo rosto de médicos, enfermeiros, pacientes e suas famílias, preocupados, assustados, mas lutando pela vida. (Enquanto lhes escrevo, recebo a notícia que minha irmã, que trabalha como enfermeira nos Estados Unidos, testou positivo para Covid19. E agora sua família está em risco).

O mundo está vivendo sua paixão. Vejo rostos desamparados, preocupados, com medo, tristeza, ódio e violência em todos os lugares, e com múltiplos disfarces. Eu me pergunto: qual é a mensagem de Cristo ressuscitado para o nosso mundo hoje? O que Deus convida-nos a ver? Até onde isso nos levará? A ressurreição significa que Ele vai nos salvar de tudo isso? Qual é a resposta de Deus ao seu povo diante de uma pandemia? Como devemos ouvir a doce mensagem da ressurreição diante de tantas notícias avassaladoras de morte, sofrimento e conflito? Onde está o caminho da esperança e de uma vida nova nestes momentos difíceis?

Irmãos, por favor, sofram comigo estes questionamentos. Eu preciso de vocês, nós precisamos uns dos outros, as pessoas precisam de nós. A ressurreição não é uma alegria barata nem palavras doces para nos salvar de nosso sofrimento. Nós devemos abrir nossos ouvidos e alargar nossos corações para compreender a Mensagem. Lutamos com Deus por respostas, mesmo que a resposta d’Ele esteja escondida em Seu silêncio.

Acho que a leitura do relato da ressurreição segundo São João, deste ano, é um Kairós. Certos detalhes do texto de João poderiam ajudar-nos a ver e ouvir a Mensagem. Como não sou muito bem formado em hermenêutica bíblica, confio em uma reflexão orante do texto. Por favor, sejam generosos se isto lhes parecer ingenuidade.

Permita-me enfatizar apenas três coisas. Primeiro, João fala que a ressurreição aconteceu “no primeiro dia da semana, quando ainda estava escuro” (João 20,1a). A ressurreição irrompe dos fundamentos de nossa humanidade e do mundo, nas trevas da ignorância. Isso nos lembra a gênese, quando o mundo estava escuro e sem forma e o Espírito pairava sobre as águas escuras. Então Deus disse: “Haja luz e houve luz” (Gn 1,2-3).

Hoje, o mundo está na escuridão da pandemia. Para muitos, o futuro parece ainda mais sombrio. Como as empresas, o governo e o povo vão se recuperar? Nossos planejamentos estratégicos, nossas previsões otimistas encontrarão o remédio e a luz suficiente para nos dar um futuro brilhante? No meio desta imensa escuridão, na qual os fundamentos do mundo parecem abalados, brilha a Luz Cristo. Podemos vê-la? Ver não vem da nossa lógica humana, porque esta é facilmente derrotada pela escuridão. A luz vem do Cristo ressuscitado. Deus nos salvará deste mal? De maneira alguma, porque o mal faz o que faz. Deus salva. Ele, finalmente, reivindica a virtude, a bondade e a fidelidade enquanto atravessamos o mal e o sofrimento, exatamente como Ele fez com Jesus. Finalmente, é Deus e o Cristo ressuscitado que controlam [a vida], e não o mal e a morte. É o nosso credo. Simplesmente devemos confiar em sua verdade e vivê-la dia após dia.

Em segundo lugar, João ressalta que Maria Madalena foi a primeira a ver o túmulo aberto (Jo 20, 1b). Ela ficou triste porque ainda não conseguia estabelecer o elo entre o túmulo aberto e a ressurreição. Foi só depois de chorar que ela viu o Ressuscitado (cf. Jo 20, 11ss). É um convite a todos nós para vermos nossa realidade através da suave lente do feminino – na tristeza e nas lágrimas. Ambas preparam o coração para ver a Verdade. Hoje em dia há muita coisa que nos entristece quando olhamos nossa realidade. Estamos chorando porque, de um jeito ou de outro, fazemos parte deste mundo ferido, quebrado e violento e, de muitas maneiras, contribuímos para a existência dessa violência e destas feridas.

Finalmente, Maria contou a Pedro e João o que tinha visto. Pedro e João viram por si mesmos. Pedro viu. João viu e acreditou. Eles ainda não entendiam todo o significado da ressurreição (cf. Jo 20,2-9). Esse detalhe nos ensina que, para experimentar uma nova vida, precisamos ir ao encontro uns dos outros e caminhar juntos como uma comunidade de buscadores da verdade.

Nossa realidade é uma visão compartilhada e ninguém monopoliza o todo ou absolutiza sua parcela do todo. Todos contribuem. Cada um acredita que o outro tem algo a contribuir. A verdade nos torna humildes porque, em vez de possuí-la, é ela que nos possui. Sempre está além de nós. Então, precisamos da contribuição de todos. A verdade é um presente gratuito revelado a uma dinâmica comunidade de peregrinos que buscam com esperança. Infelizmente, em nosso mundo pós-moderno, o poder é confundido com a verdade. Assim, as pessoas se tornam arrogantes com sua parte da verdade e a absolutiza, como se fosse a verdade total. É a mesma mentalidade que cria guerra e violência. A ressurreição dá paz e perdão. Nós temos que escolher.

Irmãos, continuemos partilhando nossa busca da verdade no Senhor ressuscitado, na solidão de nossa oração e em nossas atividades fraternas e missionárias. O irmão Carlos nos mostra o caminho e também caminha conosco, em nosso desejo de seguir Jesus de Nazaré, de ser irmão de todos, viver Nazaré, estar presente no meio dos pobres, fazer a revisão de nossas vidas, gritar o Evangelho com nossas vidas, nos sentir como as ovelhas em nossa missão nas periferias, para viver o Evangelho antes de pregar.

Esta é a nossa espiritualidade como sacerdotes diocesanos que seguem os passos do irmão Carlos. É também nosso presente para o nosso mundo e para a nossa Igreja hoje. Enquanto presente, não é um mérito, mas devemos reajustá-lo constantemente pela prática.

Nisto, somos todos iniciantes e companheiros de luta, mas juntos nos encorajamos uns aos outros para continuarmos voltando à nossa prática.

Minha humilde oração por cada um de vocês. Por favor, rezem também por mim.

Eric LOZADA

(Tradução de Carlos Roberto dos Santos)

PDF: Carta de Páscoa 2020, Eric LOZADA, irmâo responsável, port

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Retiro fraternidade Páscoa, 16 abril 2020

Fraternidade Sacerdotal Iesus Caritas. Espanha

RETIRO DE PÁSCOA 2020

A VIDA PARA O IRMÃO CARLOS
A vida livre

SEGUNDO DIA,
quinta-feira, 16 de abril

Neste segundo dia de retiro da Páscoa, saborearemos a liberdade dos filhos de Deus. O Cristo ressuscitado nos dá liberdade; quem foi trancado agora está livre como o vento. Nenhum peso pega você ou um curativo impede você de andar. O irmão Carlos está ligado apenas à vontade de Deus, à vontade que ele descobre em suas buscas e à imitação de Jesus: “Para acreditar que você precisa se humilhar, você precisa ser pequeno, precisa confessar que tem pouco espírito, admitir uma quantidade. de coisas que não são entendidas…”. Carlos de FOUCAULD, “Escritos Espirituais”. Nestes dias de “confinamento da Páscoa”, podemos experimentar a grandeza e a pequenez do mundo em que estamos. Nossa comunicação com o exterior é reduzida para nos receber “estilo japonês” e o uso de dispositivos eletrônicos. Sentimos falta dos abraços e, no entanto, não paramos de sentir o carinho de Deus e dos irmãos.

É hora de contemplar toda essa situação. A custódia vazia do irmão Carlos pode nos dizer muito sobre tantas ausências, tantas vezes que nos sentimos distantes de Deus, das pessoas ou de nosso próprio ser interior. Pensamos que Jesus não está lá, porque estamos procurando por ele em uma tumba vazia. A ausência de Deus em tantas pessoas nos deixa tristes, e gostaríamos de aproximá-lo de Jesus, que não parou de amá-los, buscá-los, abraçá-los. Ausências que às vezes são preenchidas com algo artificial, sonhos ou fantasias inúteis. Deus é um Deus dos vivos, disse Jesus, e Ele é um Deus que nos dá liberdade, apesar do nosso momento atual de “ficar de pé” ou calar a boca em casa. Em breve poderemos dizer “libertar o preso”. Nada vai nos impedir de nos abraçar e cumprimentar novamente como sempre. Nesse momento, Jesus não se distancia e nos abraça quando o adoramos, pois seu amor é mais forte do que as limitações que agora temos que viver.

Sábado Santo foi um dia de deserto para mim. Talvez seja o dia mais apropriado do ano para viver assim, até a época da Vigília Pascal. Um deserto que pode ser uma repetição do que é vivido todos os dias, mas que mais uma vez me colocou na imensidão de Deus, em seu chamado, em seu convite para sentir-se livre no momento de Nazaré, que é o confinamento. O deserto, que nos faz esvaziar de tudo e esperar tudo do Senhor. O Assekrem com as quatro paredes, o jardim, o pomar, a rua ou o campo que vemos da janela …

Como nos identificamos com esse Cristo vivo e livre em nossa missão? “Não temos a obrigação de dar esmolas, conselhos ou orar constantemente, mas temos que dar um bom exemplo, tanto mais que nossas obras são conhecidas, embora acreditemos que estamos completamente sozinhos…“, Carlos de FOUCAULD, ” Escritos espirituais ”. Nossa missão, estar junto com as pessoas em seus momentos difíceis, no cotidiano de suas vidas; também nos permite invadir por sua humanidade, por sua alegria ou tristeza, suas coisas aparentemente insignificantes, seu caminho compartilhado e sua fé ou falta dele, é a missão para a qual Jesus nos envia. “Jesus, com sua obra redentora, nos deu novamente a liberdade, a liberdade das crianças” (Papa Francisco). Cristo nos dá a liberdade de deixar tudo, de reservar tempo, da condição de ser uma pessoa consagrada, da imagem social que temos, de dizer sim à pessoa que precisa de nós, a quem podemos fazer o bem, sem “conselhos” sacerdotes ”, sem serem oficiais da liturgia ou dos sacramentos. Não importa as formas externas; o importante é o amor que colocamos.

Jesus veio não apenas para mudar o curso natural da vida física, mas para lhe dar um novo significado com a força de seu Espírito e o poder de sua palavra, transmitindo aos seres humanos uma esperança eterna, fonte inesgotável de verdade. alegria. A lápide que os discípulos de Jesus devem remover é enorme e pesada, pois a laje da morte continua a enterrar milhares de mortes hoje na pandemia mundial de coronavírus e as massas dos pobres e marginalizados em toda a nossa terra.” José CERVANTES GABARRÓN, (sacerdote da diocese de Cartagena, Espanha, em uma homilia quaresmal). Dada a diversidade de chamadas que recebemos, das mensagens que transbordam de nossos dispositivos eletrônicos nessas semanas, vamos responder com alegria da Páscoa. Muitas pessoas precisam de nós – simplesmente – para saber que estamos lá, que somos mais importantes para eles do que uma máscara quirúrgica. Eles sabem que nosso rosto e nossas mãos não se espalham mais do que o amor de Jesus, e sabemos que seu povo também é uma canção pascal de louvor, de ação de graças. Então, temos que agradecer às pessoas. Um por um, com o rosto e o nome, diante de Jesus em adoração, colocando ao seu lado quem não vemos, mas sentimos.

A pessoa que ama está aberta às tristezas dos outros e sente impulsos em relação à compaixão e ajuda, porque sente unidade com os aflitos. Conforta cada pessoa que você vê sofrimento. Ele sabe que é um com a energia original da qual tudo participa. Isso ocorre simplesmente quando nos abrimos e entramos em contato um com o outro com pena.” Willigis JÄGER, “Para onde nosso desejo nos leva. Misticismo no século XXI ”, Desclée de Brouwer (Willigis JÂGER comemorou sua Páscoa em março passado)

A Páscoa nos devolve a alegria de ser salva, a liberdade de ser feliz, a esperança de um mundo mais positivo, de apreciar o esforço e o trabalho de muitas pessoas que deixam a pele para os outros. Agradeçamos a Deus por este Jesus libertador, pequeno nos pequeninos e muito grande em nossos corações.

Boa e feliz Páscoa para todos.

PDF: Retiro fraternidade Páscoa, 16 abril 2020, port

Retiro fraternidade Páscua, 15 abril 2020,

Fraternidade Sacerdotal Iesus Caritas. Espanha

RETIRO DE PÁSCOA 2020

A VIDA PARA O IRMÃO CARLOS
A vida do último

PRIMEIRO DIA.
Quarta-feira, 15 de abril

Revendo o cântico de Filipenses (Fip 2,6-11), que aprofundamos nestes dias da Semana Santa, e oramos com ele, estamos com o irmão Carlos em seu aprendizado de abnegação, como o discípulo que aprende com seu mestre: “Ele desceu: ele desceu a vida toda, descendo quando encarnou, descendo quando menino, descendo obedecendo, descendo ficando pobre, abandonado, exilado, perseguido, executado, sempre se colocando em último lugar”. Carlos de FOUCAULD, “Escritos Espirituais”.

O aristocrata se torna um servo, o senhor do castelo vai morar na vila, tira o título e se torna irmão. Como podemos entender o último local se permanecermos no local habitual ou até tentarmos subir, subir posições? Quantas vezes nos enganamos pensando que já somos humildes?

A imitação de Jesus, como ensinamento de Carlos de FOUCAULD e constante desejo de sua conversão, sabemos que consiste em orar, trabalhar, amar, acompanhar, perdoar, como Jesus fez, e também ser feliz como ele, mostrando o Misericórdia do pai, em todo gesto, toda palavra. “A misericórdia não é fabricada: é recebida. O presente de Deus não é comprado, não é vendido, não retorna a ligação. Dê livremente sem esperar nada, sem que ninguém perca a esperança. Arrisque amar até o fim”. Jacques GAILLOT em “Feliz o Misericordioso”, 10 de setembro de 2016 em iesuscaritas.org

Certamente estamos experimentando nestes dias de “vida oculta”, confinados, sem nada em nossas agendas, com as velas de nossos navios dobrados, esperando um vento favorável, um estilo Nazaré muito especial.

O chamado para ser missionário deve estar permanentemente em nossos corações; não participar da vida das pessoas, visitar os doentes, receber amigos e pessoas que vêm a nossa casa e tantas coisas que não podemos fazer durante essa pandemia podem ajudar-nos a rever o significado da missão. É muito provável que sintamos falta dos outros, como sentimos a nossa falta em uma situação normal. Nós nos tornamos os últimos por imposição. Devemos ser os últimos porque nosso Mestre foi feito dessa maneira, e é assim que aprendemos todos os dias.

Tudo isso nos torna mais conscientes das realidades do nosso mundo. Vivemos em uma Europa confortável que está cambaleando, uma Europa fechada em si mesma: “A Europa dos povos está prestes a ser construída. É o significado da história. Sacrificar homens pelo bem da economia, deixando os países do Terceiro Mundo de lado, não se tornará a Europa dos povos. Qual será o futuro das comunidades imigrantes? Parece-me no Tratado de Maastricht que os imigrantes pagam o pato por uma Europa forte que dá um pouco mais de altura a seus muros.”Jacques GAILLOT, “Eu tomo minha liberdade …”, Nueva Utopía

Essa Europa, que sofrerá uma crise econômica que ainda não conhecemos seu alcance, que será a crise humanitária de tantas pessoas – que realmente é o mundo dos últimos, daqueles que sempre foram os últimos – aprenderá a estar no seu em vez disso, para saber ouvir melhor, aplicar uma política de olhar menos para o umbigo e olhar para o mundo sem medo. Algo assim pode acontecer na América do Norte … E, como Igreja, poderíamos dizer o mesmo.

Do pequeno, que sempre foi sem importância aos mais ricos, o irmão Carlos constrói um sonho. Era algo que ele não via realizado, como uma utopia inatingível – um desafio do Reino – e, no entanto, estamos gostando disso, porque nos ajuda em nossas vidas a viver simplesmente, compartilhar, ser fraternidade, não olhar ninguém acima de nós, para não ser submisso ao consumo feroz, ou como sacerdotes, para celebrar a fé do povo, do qual fazemos parte, sem barulho ou rituais complicados, fazendo parte da história da vida das pessoas porque elas são importante para nós. “Em solidariedade com os pobres. Esta Páscoa tem sua própria cor. Nossa ambiguidade pessoal parece um pouco mais clara, iluminada pelos pobres. Alguns que andam com Jesus ficam desconcertados com as palavras de denúncia e com a exigência de seus direitos e, consequentemente, querem silenciar a voz dos pobres e daqueles que demonstram solidariedade com eles. Os oprimidos também têm medo de morrer no deserto como os judeus, e pedem o que temos. A história, com seus contratempos e trevas, nos leva a perder de vista o Deus que parece perdido e distante na montanha, enquanto ao nosso lado são feitos ídolos de emergência feitos de ouro brilhante.” Benjamín GONZÁLEZ BUELTA, “Desça ao encontro de Deus. A vida de oração entre os pobres ”, Sal Terrae

A Páscoa, nesta Páscoa em solidão, na Nazaré doméstica, é uma oportunidade de apreciar novamente as pequenas coisas, as boas novas, os amigos ou a família que sentimos falta.

A Páscoa nos coloca no contexto da alegria dos pequeninos, os últimos, onde Jesus está sempre presente, com a porta aberta para ser convidada à mesa dos pobres, ou a cortina fechada porque não há porta. Não vamos passar por aqui, pensando em lugares melhores. A adoração de Jesus é agora aquela humilde casa onde estar com ele, com todos os pobres do mundo, diante de quem não precisamos de palavras.

Vamos agora fazer um tempo de adoração. Não para pensar no que escrevi, mas para olhar para Jesus, aquele que se tornou o último e foi o Amado do irmão Carlos.

Para nossa revisão de vida:

1 Vivo mais a minha vida (tempo, trabalho, disponibilidade, recursos pessoais, potencialidades …) do que em função do meu ser missionário, da minha dedicação aos outros? Por que e de que maneira?

2 No confinamento e na pandemia que vivi, o que aprendi da minha própria experiência interior e das experiências, valores, dor, vida e morte de fora?

3 Páscoa, como todas as Boas Novas anunciadas aos pobres, em que aspectos, atitudes ou abordagens da minha vida é uma conversão, uma mudança, um chamado? Posso imaginar ou estou vivendo isso?

PDF: Retiro fraternidade Páscua, 15 abril 2020, port

Retiro fraternidade Páscoa, 14 abril 2020

Fraternidade Sacerdotal Iesus Caritas. Espanha

RETIRO DE PÁSCOA 2020

A VIDA PARA O IRMÃO CARLOS

INTRODUÇÃO
Terça-feira, 14 de abril, noite

Desta maneira telemática, neste retiro pascal, encontro entre irmãos e momento contemplativo para celebrar o Jesus ressuscitado, ofereço-lhe as reflexões e o convite à adoração, Cristo, pão e vinho, livres da morte e da laje, andador, peregrino conosco neste momento difícil da humanidade … Hoje, o Cristo Vivo nos convida a passar esses três dias em retiro alegre com seres humanos que têm em suas vidas a esperança de um mundo melhor. Através dele fomos salvos da cruz. Por causa dele, somos motivados a continuar na obra do Reino. “Tudo é de Deus … Devemos a ele todos os momentos da nossa vida. Nosso ser e existir: vamos fazer tudo por Deus ”. Carlos de FOUCAULD, “ Escritos Espirituais”.

De nosso irmão Carlos, com todos os aspectos e fatores de sua vida, suas intuições e contradições, vamos saborear a vida, como quem saboreia o que é pequeno e simples e quem é verdadeiramente pobre. Ele se deixou encontrar na manhã da Ressurreição e sua alegria chega até nós, que tentamos viver seu carisma como homens de fé. Façamos desta Páscoa um espaço de alegria, de sonhos – os sonhos do irmão Carlos – de vida e vida aproveitadas a cada momento, com a esperança de quem sonha com um mundo novo e com os sofrimentos, os deles e os da humanidade, eles não são um obstáculo: “Se a tristeza o convidar um dia, diga a ele que você já tem um compromisso com a alegria e que será fiel a ele a vida toda. Onde existe verdade, também há luz, mas não confunda a luz com o flash”. (Papa Francisco)

A alegria que nem sempre é motivo de riso, nem o produto do triunfo pessoal. A alegria dos discípulos em ver o Senhor, juntamente com o medo do “que acontecerá agora”. É a alegria do irmão Carlos que se reúne todos os dias em Nazaré, em Beni-Abbès ou Tamanrasset com pessoas, de quem ele aprende uma língua, um modo de se relacionar, uma escuta, como em Marrocos ele encontrou uma fé no Muçulmanos que lhe transmitiram a grandeza de Deus. Não eram bons tempos, nem política nem economicamente para o mundo; miséria e epidemias também atormentaram muitos países, de maneiras diferentes e com conseqüências díspares, como a Primeira Guerra Mundial, a pilhagem de recursos nas colônias ocidentais na África, na Ásia … Que pandemia maior que o egoísmo de os poderosos? Existe uma vacina para isso?

Tive que refazer tudo preparado para esses dias diante da situação atual e, realisticamente, não podemos deixar de lado a situação de nosso mundo, a mais próxima de nós ou a que não nos toca de perto. É uma Páscoa muito especial, pois acredito que até agora não tínhamos vivido. Apesar de tudo, vivamos como a Igreja e nosso ser profundo nos convida, assim como cada um de nós.

Especialmente para mim, nestes dias da Páscoa, nossos irmãos que já celebraram toda a Páscoa recentemente estarão em nossos corações: Manolo BARRANCO, Mariano PUGA, Michel PINCHON, Margarita GOLDIE, Antonio L BAEZA … tantos irmãos e irmãs ressuscitados. .

Voltemos nestes dias para nos surpreendermos com as Boas Novas do Jesus ressuscitado, de quem está vivo nos humildes, em hospitais, favelas, prisões, aldeias sem luz ou água em tantos lugares do mundo; daquele Cristo que passou pela cruz, mas que não passou do povo; Aquele que, de tantos homens e mulheres que nestes meses estão trabalhando para nós, nos liberta do medo e chega até nós.

Então nos colocamos na presença de Deus, sem esquecer a presença de dor, esperança e felicidade. Nós nos colocamos em suas mãos, enquanto oramos na Oração do Abandono, e oramos … “Meu Pai, eu me abandono a você …”

Com todo o amor de nossos corações, com infinita confiança, continuemos acreditando na vida, iniciando este retiro de Páscoa.

“Onde quer que eu moro e a vida brota em mim, lá verei o Ressuscitado e experimentarei Deus.” Anselm GRÛN, “Procurando Deus na vida cotidiana”, Narcea.

PDF: Retiro fraternidade Páscoa, 14 abril 2020, port

O homem é bom e mau por natureza. José Inácio do VALE

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), foi um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata genebrino. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.

Sua filosofia política de fato influenciou o Iluminismo por toda a Europa, assim como também aspectos da Revolução Francesa e o desenvolvimento moderno da economia, da política e do pensamento educacional.

Para ele, as instituições educativas tradicionais corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a Natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar.

“O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. Rousseau toma posição contra a teoria do estado de natureza hobbesiano. O homem natural de Rousseau não é um “lobo” para seus companheiros.

Thomas Hobbes (1588-1679) foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651). Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo e de uma sociedade fortes. No estado natural, embora alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais de forma a estar isento do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Disse: “O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos”.

O homem nasce mau, com instintos de sobrevivência, e que devido a tais instintos é capaz de fazer qualquer coisa. A sociedade tem o papel de educá-lo, de humanizá-lo, de torná-lo sociável. “A natureza humana para Hobbes é má. O homem é mau”. Essa tese se encontra na obra “O Leviatã”, inspirada em uma figura mitológica, que é uma serpente que fez um acordo com os homens. Na medida em que os homens não cumprem o acordo, a serpente vem e os devora”.

Na visão de Hobbes, como sugere a clássica passagem “O homem é o lobo do homem.”, o estado de natureza no qual o homem vive é essencialmente composto por guerras e disputas, uma vez que a para ele o homem tem o direito fundamental à vida e para isso a de se valer de qualquer coisa para garanti-la, sendo “mal” por natureza. Em outras palavras, o indivíduo vive em constante estado preventivo, o que leva o mesmo a contínuas disputas e segundo ele “…a vida do homem é solitária, miserável, sórdida, brutal e curta”.

Kant, Locke e Baudelaire

Na visão de Kant e Locke: o homem não nasce bom nem mal, mas sim num estado bruto, primitivo, animalesco – e se torna aquilo que a sua educação/ambiente lhe ensinam. Não existe naturalmente bom nem mau, porque esses valores são por definição relativos.

Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo prussiano. Amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna. A filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma das mais determinantes fontes do relativismo conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. Em 1781 publicou a Crítica da Razão Pura, um dos livros mais importantes e influentes da moderna filosofia.

Kant é provavelmente mais bem conhecido pela teoria sobre uma obrigação moral única e geral, disse: “Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal”.

Segundo Kant: “Para indicar a classe do ser humano no sistema da natureza viva e assim o caracterizar, nada mais nos resta a não ser afirmar que ele tem um caráter que ele mesmo cria para si mesmo enquanto é capaz de se aperfeiçoar segundo os fins que ele mesmo assume; por meio disso, ele, como animal dotado da faculdade da razão (animal rationabile), pode fazer de si um animal racional (animal rationale)”.

John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês conhecido como o “pai do liberalismo”, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social.

Locke ficou conhecido como o fundador do empirismo, além de defender a liberdade e a tolerância religiosa. Como filósofo, pregou a teoria da tábua rasa, segundo a qual a mente humana era como uma folha em branco, que se preenchia apenas com a experiência. Essa teoria é uma crítica à doutrina das ideias inatas de Platão, segundo a qual princípios e noções são inerentes ao conhecimento humano e existem independentemente da experiência. Afirmou: “O homem nasce como se fosse uma folha em branco”.

Um dos objetivos de Locke é a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social e outras bases. Opondo-se à Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres e iguais.

Charles Baudelaire (1821-1867) foi um historiador, poeta e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia.

Ele acreditava que Deus criou a natureza e os seres humanos para serem bons e maus, resultando no que parece ser uma mistura de ambos. Disse: “Existem em todo o homem, a todo o momento, duas postulações simultâneas, uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de precipitar-se no abismo”.

A simbiose da natureza humana é conhecida em todos os seus contextos: da antropologia, sociologia, neuropsiquiatria, a fisiologia do cérebro e de suas funções, sejam o comportamento, pensamento (psique) ou os mecanismos de regulação orgânica e interação psicossocial alguns problemas se impõem aos pesquisadores, destacando-se entre estes os que podem ser reunidos pela patologia. A amálgama da dimensão humana foi decifrada.

Dr. A. Inácio José do Vale
Psicanalista Clínico, PhD
Capacitado em Psicologia Clínica e Educacional
Professor no Centro Educacional Católico Reis Magos
Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea/RJ.

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