Carta aos irmâos das Americas, fevereiro 2024

Brasil, 10 de fevereiro de 2024

Aos irmãos da Fraternidade Jesus Caritas

Paz e Bem!

Com a graça de Deus iniciamos muito bem o ano de 2024.

A equipe panamericana se reuniu na cidade de Oaxaca de 2 a 8 de janeiro. Agradecemos a nosso irmão Padre José Rentería e sua comunidade, pela acolhida e por toda a logística criada para que pudéssemos ter uma excelente estadia e um bom encontro em Oaxaca. Em nosso encontro:

1) Seguimos a metodologia da Fraternidade durante todo o encontro;

2) Fizemos uma revisão da caminhada de nossas fraternidades no continente americano, buscando meios de como podemos ajudá-las, e como incentivar a criação de novas fraternidades nos países onde ainda não existem;

Nos propusemos entrar em contato com irmãos da Venezuela, Colômbia, Panamá e Cuba, que tenham alguma semelhança com nossa espiritualidade ou com este rosto de Igreja pobre e servidora, para convidá-los a participar conosco em nossas fraternidades;

Solicitamos aos irmãos que conheçam alguém, para nos enviar seus dados de contato.

3) No dia 4 de janeiro, o Padre Willians R. de Brito, do Brasil, fez uma apresentação sobre a “Sinodalidade na Igreja sob uma visão Latino-americana”, por videoconferência.

Depois, discutimos sobre estes três temas:
a. Qual é o maior problema das fraternidades em nosso continente?
b. Propostas para o futuro de nossas fraternidades
c. Como incentivar nossa Fraternidade em outros países?

4) No dia 7 de janeiro fizemos um dia de deserto numa bela colina de Oaxaca.

5) Neste encontro começamos organizar a criação de um folheto com a missa em espanhol, inglês, português e francês, e alguns cânticos de nossos países, para nos ajudar em nossas reuniões e assembleias panamericanas e internacionais;

6) Não podemos esquecer que tivemos a oportunidade de visitar a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, e também participar da vida da Paróquia São Bartolomeu de Coyotepec, da missa festiva em honra a Nossa Senhora de la Soledad al pie da la Cruz, da missa festiva dos Santos Reis, de encontros com a comunidade dos surdos, e também de um matrimônio e batizado com eles. E por último, de um belo almoço com as lideranças das comunidades da paróquia de José Renteria.
Irmãos, seguindo o exemplo de São Carlos de Foucauld, gritemos o Evangelho com a vida.

Um grande abraço,

Carlos Roberto dos Santos
Responsável Continental

Carta de Natal 2023 aos irmâos de todo o mundo. Eric LOZADA, responsável internacional

Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e eles lhe chamarão o nome de Emanuel” (que significa Deus conosco). (Mateus 1:23)

O Natal sempre foi isto: contemplar a visita de Deus ao seu povo”. (Papa Francisco)

Eu nasci, nasci para você, nasci numa caverna, em dezembro, no frio, numa noite de inverno, na pobreza e na solidão, desconhecido até dos mais pobres. Por que nasci assim? Para que você acredite no meu amor, pois meu amor por você não tem limites. Como eu te amei tanto, coloque toda a sua esperança em mim. Eu te ensino a me amar… Desde o meu nascimento eu me mostrei a você e me coloquei inteiramente em suas mãos. … você foi capaz de me ver, me abraçar, me ouvir, me servir, me consolar…. Eu não me entreguei a você apenas no nascimento, por alguns dias ou anos, mas me entreguei em suas mãos para sempre, até o fim dos tempos.” (Meditação do irmão Charles sobre o presépio)

Queridos irmãos,

Saudações de Natal para todos vocês!

Como você e sua comunidade estão comemorando o Natal este ano? Existem formas novas e criativas de celebração do ano passado? O Natal ainda é a presença gentil, tranquila e humilde do Emanuel em nosso mundo agitado e barulhento? Ou damos licença ao mercado, ao turismo e às indústrias do entretenimento para planear as nossas celebrações de Natal? Seria bom olhar para as nossas celebrações de Natal deste ano face à realidade do nosso mundo de hoje, com todas as suas luzes e sombras. Pergunto-me como é que as famílias em Gaza, na Ucrânia, no Haiti ou em qualquer outro lugar e as pessoas que sofrem de agitação social, pobreza extrema e deslocamento celebram o Natal este ano? A realidade do sofrimento está mais próxima deles do que a da alegria do Natal? Olhamos reflexivamente para o nosso mundo e ao interpretar os sinais celebramos o Natal de uma forma mais ágil e adequada.
E a mãe terra? O Natal não é apenas para o mundo humano, mas para todo o universo, incluindo o ambiente ecológico que é radicalmente alterado pelo mistério de Deus em carne. Eu me pergunto como a irmã água, o irmão vento, a irmã pássaro, o irmão floresta estão comemorando a estação? As reclamações sobre a poluição, as alterações climáticas, o desequilíbrio do ecossistema estão a privar-nos da alegria do Natal? Para nós, que podemos estar no lado mais brilhante do mundo, qual seria a nossa resposta ao convite para celebrar o Emmanuel no meio do barulho estrondoso da violência, da ganância, da apatia em relação à vida em todas as formas do nosso mundo de hoje?

O nascimento virginal não é apenas uma pessoa, mas um caminho. Bem no fundo da nossa esterilidade, vulnerabilidade, desamparo como pessoas e ambiente, vestígios de uma nova vida aparecem no horizonte, pequenas manifestações do Emmanuel abrem a nossa consciência para dar origem a novas iniciativas e sonhos partilhados. Como pessoas de esperança, olhamos longa e amorosamente para o mundo como o Pai o vê quando deu ao mundo o seu Messias no primeiro Natal. O mundo não estava pronto. Tem que nascer na pobreza da manjedoura, na periferia da aldeia. Isto não é um pensamento sentimental ou ilusório ou um deus ex machina, mas um apelo a uma mudança radical e paradigmática para o nascimento de um novo céu e de uma nova terra.

O Natal é um chamado à solidão do coração. A verdadeira solidão é reconhecer, nomear e reivindicar a nossa pobreza, o nosso vazio que é também o nosso espaço ilimitado para os outros. No âmago da nossa solidão, encontramos o Emanuel em todos os homens e mulheres como irmãos e irmãs, não apenas nossos amigos, mas também aqueles que matam, mentem, torturam, violam e travam guerras. Eles se tornam nossa carne e sangue. Quando os nossos corações estão cheios da bondade do Emanuel e vazios de medo, raiva, indiferença, ganância, “nos tornamos um lar acolhedor para Deus e para toda a nossa família humana na terra”. (Henri JM Nouwen)

O Natal é um chamado à solidão do coração. A verdadeira solidão é reconhecer, nomear e reivindicar a nossa pobreza, o nosso vazio que é também o nosso espaço ilimitado para os outros. No âmago da nossa solidão, encontramos o Emanuel em todos os homens e mulheres como irmãos e irmãs, não apenas nossos amigos, mas também aqueles que matam, mentem, torturam, violam e travam guerras. Eles se tornam nossa carne e sangue. Quando os nossos corações estão cheios da bondade do Emanuel e vazios de medo, raiva, indiferença, ganância, “nos tornamos um lar acolhedor para Deus e para toda a nossa família humana na terra”. (Henri JM Nouwen)

A nossa tarefa é esperar, mas não passivamente, mas ativamente. Quando esperamos, sabemos que o que esperamos é crescer a partir do solo em que pisamos. Esperamos com a convicção de que uma semente foi plantada há dois mil anos e que algo já começou. Somos chamados a estar presentes no Kairos do Natal com a certeza de que algo está acontecendo onde estamos e que queremos estar presentes neste momento sem as características externas da época. Deus plantou generosamente a semente da divindade em cada coração humano e no nosso mundo e esperamos com firme convicção e alegre esperança com Maria, que cantou: “O Todo-Poderoso fez grandes coisas e santo é o seu nome”. Bem-aventurados somos quando vemos o que Deus quer que vejamos nesta grande época do Natal.

Alguns anúncios:

Há um Mês de Nazaré organizado nas Filipinas de 1 a 26 de julho de 2024 para falantes de inglês. A taxa de inscrição é de R$ 400/participante.

Estão a caminho os preparativos para a nossa Assembleia Mundial em Lulunta, Argentina, em janeiro de 2025. Nas próximas semanas, vocês receberão cartas da equipe internacional para que vejamos, reflitamos, discernamos e caminhemos juntos a direção, o conteúdo e o processo da Conjunto.

Irmãos, muito obrigado pelo belo testemunho e pela firme determinação de seguir Jesus mais de perto, seguindo os passos do Irmão Charles. Que a nossa prática fiel da espiritualidade liberte de tal modo os nossos corações que o Emanuel possa fazer nascer em nós e no nosso ministério novos e fervorosos modos de encontrar os múltiplos rostos dos pobres de hoje.

Com meu carinho fraterno,
Eric


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Carta de Eric, 15 maio 2023

Por ocasião do primeiro aniversário da canonização do Irmão Carlos de Foucauld

Ele (Irmão Charles) entendeu que Deus queria que ele apenas abrisse um caminho para que outros pudessem plantar melhor. Mas ele pensava apenas em anunciar o Evangelho ao povo do Saara. Ele não tinha ideia de que Deus estava trabalhando, por meio dele, para preparar um presente para toda a Igreja. (Arcebispo de Marselha, França, pregando sobre o Irmão Charles a caminho da canonização)

Queridos irmãos,

C ordiais saudações fraternas a todos vocês!!!

Como vocês estão neste momento? Quais são as experiências significativas de alegria, crescimento, transformação na sua vida pessoal, nas suas amizades com os irmãos sacerdotes da sua diocese, no seu ministério com as pessoas das periferias? Quais são os espaços de desânimo, estagnação e luta? O que vocês estão fazendo para estar bem? A quem vocês recorrem para pedir ajuda? Para onde o Espírito está levando vocês em sua decisão de ser um alegre missionário do Cristo ressuscitado? Como vocês estão progredindo na disciplina da adoração diária, revisão de vida, dia de deserto, meditação do evangelho, e na participação aos encontros mensais? Como essas práticas espirituais fortalecem seu compromisso com o chamado a ser um irmão universal, uma presença doce, um companheiro contemplativo, um pregador profético, um discípulo missionário de Jesus de Nazaré seguindo os passos do Irmão Carlos?

Humildemente apresento-lhes essas questões. As perguntas são como uma bússola para a alma que busca a Verdade e o Bem em meio aos caminhos complexos, diversos e confusos do nosso mundo. Honestamente, eu também me faço estas perguntas. Precisamente, nesta tensão, a graça de Deus trabalha, incondicionalmente, para abrandar os nossos corações. A chave é manter a pergunta por tempo suficiente até que ela nos livre de tudo o que não é verdadeiro e bom dentro de nós. Os membros de A.A. têm isto para nos dizer – voltem sempre à prática. Não somos “super” seres humanos que vivemos sempre de acordo com o nosso ideal. Não, somos pastores fracos e feridos que, muitas vezes, vivemos com nossas fragilidades e deficiências, mas somos muito amados e chamados a amar como o Mestre.

I rmãos, tenho a oportunidade de escrever a vocês para celebrarmos o primeiro aniversário da canonização do Irmão Carlos. Testemunhei a alegria e o júbilo no ano passado, na Praça de São Pedro, em Roma. Foi um momento Kairós não só para nós, mas ainda mais para a Igreja universal. Quando o seu nome foi anunciado no início da Eucaristia, ouviram-se do povo gritos de alegria e fortes aplausos de afirmação e gratidão a Deus.

Agora, a mesma alegria eufórica se manifesta nos atos concretos, pequenos, mas decisivos, de testemunho profético nas periferias, inspirados na mensagem contemporânea do Irmão Carlos. O apelo do sínodo à sinodalidade nos convida a participar de uma jornada universal como peregrinos (não turistas), todos irmãos e irmãs, caminhando lado a lado, colaborando, discernindo e escutando uns aos outros para descobrir onde o Espírito está conduzindo nosso mundo hoje.

Durante nossa preparação no ano passado, nós da equipe internacional perguntamos como a canonização te impactou? Agora, um ano depois, a pergunta é mais específica – agora que o Irmão Carlos foi reconhecido como um dom para a Igreja, o que devemos fazer para partilhar esse dom com outras pessoas que estão perdidas, mornas, curiosas, simpatizantes, mas ansiosas aprofundar sua espiritualidade? Semelhante ao mandato dos apóstolos, depois da Ressurreição, de anunciar que Ele está vivo, nós somos chamados a deixar de ser muito introvertidos para nos tornarmos mais abertos, a caminhar em territórios desconhecidos, a partir de um simples encontro pessoal no túmulo de nossas perdas, no caminho decepcionante para a nossa Emaús ou no partir do pão com os pobres e marginalizados. Foi o Espírito de Cristo ressuscitado que os moveu a serem missionários corajosos, incansáveis ​​e alegres. E nós? Qual é a nossa história? Como ficamos entusiasmados com nossa missão de transmitir o presente? Como poderíamos iniciar encontros pessoais com irmãos sacerdotes de nossa diocese com irmãos fora de nossa diocese ou de nosso país? Como realizar a missão com os demais ramos da Família Espiritual em espírito de colaboração fraterna e corresponsabilidade pelo dom?

N as Filipinas, nos organizamos com os outros membros da Família Espiritual e nos comprometemos a ser companheiros de peregrinação, reconhecendo nossos dons únicos, mas chamados a testemunhar a unidade, as amizades sociais, a partilha fraterna, a corresponsabilidade no caminho do discipulado missionário ao longo da vida e a fidelidade ao carisma do Irmão Carlos.

E você e sua fraternidade local, as fraternidades de sua região, as fraternidades nacionais e continentais? Para onde és guiado pelo Espírito? O que você deve fazer? Não podíamos simplesmente sentar e trabalhar atrás do nosso mundinho sem nos preocuparmos com a realidade maior do Reino de Deus aqui e agora.

Que a vinda do Espírito, como línguas de fogo, acenda nossos corações para assumirmos a tarefa de fazer nossa missão como o fez o Irmão Carlos. Embora as coisas nem sempre estavam claro para ele para onde ir e o que fazer, ele nunca permaneceu na ambivalência e na indiferença. Pelo contrário, a sua paixão por imitar o amor de Deus em Jesus de Nazaré o consumiu de tal forma que ele lutou incansavelmente contra todas as condições humanas que nos separam de Deus, dos pobres e uns dos outros.

S ão Carlos de Foucauld, rogai por nós!!

Com muito amor e fogo,


PDF: Carta de Eric, 15 maio 2023 port

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Carta de Natal 2022 de nosso Irmão Eric

A VISITA DE MARIA A ISABEL
CARTA DE NATAL, DE ERIC, AOS IRMÃOS DE TODO O MUNDO

“Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emmanuel” (Isaías 7,14).

“Não é necessário ensinar os outros, curá-los ou melhorá-los; é necessário apenas viver entre eles, partilhando a condição humana e estando presente entre eles com amor”. (Ir. Carlos de Foucauld)

Queridos irmãos, saúdo a todos com muita alegria e paz, cheio de esperança, de Emmanuel!!!

Como vai? Quais realidades e preocupações você tem nesses dias? Você está irradiando a mensagem de Natal para as pessoas ao seu redor: seus irmãos sacerdotes, seu bispo, os excluídos de sua paróquia, seus vizinhos mais próximos? Você está prestando atenção à sua saúde física, mental, emocional e espiritual enquanto realiza várias tarefas no seu ministério? Quais espaços você está criando em sua comunidade para Emmanuel entrar em suas vidas? Quais chamados do Espírito vocês estão respondendo para que possam caminhar juntos como uma comunidade sinodal? E como a vida e o carisma do nosso querido irmão Carlos estão fazendo diferença na maneira como você vive a sua missão e na qualidade da sua resposta a esses chamados? Essas são grandes questões que quero contemplar com vocês. Deixemos que nossa vida em fraternidade e nosso trabalho missionário sejam aprofundados pelas perguntas que temos.

Que alegria lhes escrever uma carta nesta época de Natal. Mais do que uma tradição na Fraternidade, escrevo com o coração de um irmão que deseja estar em comunhão contigo e que tem grande admiração por toda a sua criatividade, fidelidade, trabalho árduo e paixão por Jesus o Evangelho, seguindo os passos do irmão Carlos. Tenho presente as histórias e os rostos daqueles que conheci pessoalmente e daqueles que ouvi dizer que vivem nas periferias de Nazaré. (Enquanto escrevo esta carta, sou informado da morte de dois irmãos idosos, Álvaro González do Chile e Antonino das fraternidades de Madri. Enquanto lamentamos suas perdas, também nos alegramos por dois de nossos irmãos que retornam à casa do Pai como discípulos fiéis de Jesus, que agora gozam da paz eterna).

NATAL É UM KAIRÓS

O Natal é um “momento Kairós”, o momento mais apropriado para lançar um olhar longo e amoroso, com novos olhos, sobre toda a criação em diferentes níveis e formas – a comunidade humana, a ecologia natural, a política, a economia, a cultura, os relacionamentos sociais -, à luz do Plano amoroso do Criador. Através do mistério de Deus encarnado, toda a criação, incluindo a ecologia natural, está radicalmente transformada em lugar de encontro com Deus. Aqueles que costumavam ser oponentes radicais aos olhos do mundo agora criaram pontes e estão restaurados em sua configuração original conforme o desígnio de Deus. Tudo agora está em Deus. Tudo pertence a Deus. Afinal, é um universo inclusivo.

Mas o mundo parece não estar pronto para esse Deus. Insiste em um mundo onde Deus está superado e a humanidade cria um ídolo de si mesma, com pontos de vista, pressupostos e ideologias egoístas, autorreferenciais e delirantes. Isso se tornou proeminente durante a pandemia. Na forma como nos vemos em relação uns aos outros, seja na família, na comunidade paroquial ou entre nações, usamos as máscaras da desconfiança e do engano escondendo a mentira de que o ego é o ponto de referência e o outro uma entidade descartável. Com o mercado globalizado, tudo se tornou mercadoria. Apesar dos benefícios produzidos pela tecnologia e pelas redes sociais, elas acabaram se tornando “servidoras fiéis” do mercado. Os pobres, incluindo a Mãe Terra como um novo pobre, estão pedindo ajuda. O poder, a autoridade e riqueza poderiam ser usados ​​para restaurar, reabilitar, servir e cuidar, mas parece que a ganância, a apatia e a indiferença venceram. Cegam a mente e entorpecem o coração para assumir responsabilidades. Então, é um mundo escuro, afinal.

Este era precisamente o espírito do Natal original: o mundo não estava pronto (não havia lugar na hospedaria), por isso Emmanuel teve de nascer na periferia, na noite morta, silenciosa, sem diversão. Esta é a sabedoria do convite do Papa Francisco para irmos às periferias e encontrarmos Deus lá. Basta pedirmos ao Espírito que nos dê novos olhos para captar os sinais, por mais banais e insignificantes que possam ser, mas são dons de Deus que nos guiam para uma nova luz. Em nossas leituras da Bíblia, ao celebrarmos a missa, ouvimos histórias de pessoas insignificantes nos caminhos da vinda de Emmanuel. Todos parecem estar enfrentando dilemas morais: em sua esterilidade, onde está a luz? Seguindo seu próprio projeto de vida, onde está o plano divino? Em sua solidão, impotência, medo, vergonha, onde está a saída? Precisamente nestes momentos, Deus decide vir e viver entre nós.

OS PEQUENOS CAMINHOS DE EMANUEL

O único caminho que Emmanuel escolheu para vir ao mundo parece ser o das pessoas comuns das periferias, que enfrentam realidades de sofrimento e dor e lutam para fazer uma escolha fundamental, entre a esperança e o desespero, entre a violência e a paz, entre trevas e luz, por Deus ou contra Ele. O Espírito através de um anjo tem que cobri-los para libertá-los de tudo que os torna não livres, para que possam submeter-se livremente ao plano divino, que é maior. Quando em nossas vidas e ministérios escolhemos colaborar com os outros em vez de sermos autossuficientes, escutar os outros mais do que falar de nós mesmos, cuidar dos outros em vez de nos fecharmos em nosso próprio conforto, compreender o outro, com paciência, em vez de insistir que sejamos compreendidos, servir ao invés de sermos servidos, nos tornamos pequenos caminhos de Emanuel presente em nosso mundo; um momento, uma pessoa de cada vez. A nossa colaboração é pouca e pequena, uma escolha diária a fazer, mas torna-se justamente o caminho sagrado do Emanuel quando a fazemos muito bem. O irmão Carlos é o nosso ícone de esperança. O Papa Francisco o reconheceu, na Fratelli Tutti, como nosso caminho para o diálogo e a fraternidade universal. Cabe-nos fazer nossa prática diária e mensal da espiritualidade com resolução e ação determinada para que nos tornemos sinais alegres de Emanuel em nosso mundo de hoje.

Portanto, alegrem-se, queridos irmãos, o Natal é, afinal, uma época de boas notícias e esperança.

Aqui está um caminho para que possamos aprofundar nossa prática e devoção ao Irmão Carlos, especialmente agora que sua vida e carisma foram reconhecidos pela Igreja universal. Depois da canonização, recebi do dicastério, 20 relíquias do Irmão Carlos, por meio do Bispo John MacWilliams, do Saara. Essas relíquias estão à nossa disposição. Nós, da equipe internacional, desejamos que elas cheguem em suas mãos após você escrever uma carta de solicitação endereçada a ericlozada@yahoo.com. Serão entregues por ordem de chegada. A única exigência é que organizem uma devoção pública em sua honra, especialmente nos seminários e paróquias que levam o nome do Irmão Carlos. Muito obrigado.
Que Emanuel nos faça compreender os sinais dos nossos tempos, escutar os seus convites na oração e no discernimento e aplicá-los em colaboração com o povo de Deus, como caminhos para que Emanuel possa estar presente no nosso mundo de hoje.

Com meu amor e abraço fraterno.
Eric, seu irmão-servo.
Natal 2022

PDF: Carta de Natal 2022 de nosso Irmão Eric

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Carta de Córdoba – setembro 2022

Queridos irmãos das Fraternidades da América

Uma saudação muito fraterna de Córdoba, onde fomos muito bem recebidos pelos nossos irmãos argentinos, na Casa de Exercícios Espirituais Catalina de Maria. Aqui, encontramos irmãos Responsáveis Nacionais e delegados de sete países: Chile, Argentina, Brasil, República Dominicana, México, Estados Unidos e Quebec-Acadie. Fomos encorajados por várias mensagens que nos foram enviadas: por Eric Lozada, nosso Responsável Internacional; por Angelo Rossi, Arcebispo de Córdoba; por Rafael Felipe, bispo emérito e fundador de nossa fraternidade na República Dominicana, e pela visita de Ricardo Seirutti, bispo auxiliar de Córdoba.

Seguindo a linha de nossa Assembleia Internacional em Cebu, Filipinas (2019) e as diretrizes do Papa Francisco, nos concentramos no tema da MISSÃO EVANGELIZADORA.

Compartilhamos experiências missionárias realizadas por nossos irmãos nas periferias geográficas e existenciais de nossa América: pessoas com deficiência, adictos, migrantes, povos originários, populações afetadas por megaprojetos de mineração, minorias excluídas por diversos motivos, e doentes. Também incluímos os presbíteros em crise. Os irmãos do Brasil compartilharam conosco uma bela experiência nesse sentido. São várias formas de pobreza em que encontramos Cristo Crucificado e Ressuscitado, devolvendo dignidade e esperança àqueles que nossa sociedade descarta, marginaliza e invisibiliza. Ele alcançou as periferias antes de nós, os missionários, e está fazendo sua obra libertadora.

Sentimo-nos sinais e instrumentos deste Cristo “que andou fazendo o bem” através da proximidade com os mais vulneráveis, da escuta atenta, do diálogo, da compaixão e da ação solidária. Nunca sozinhos, mas sempre trabalhando com outros presbíteros, com religiosos, diáconos, leigos e leigas, homens e mulheres de boa vontade. A pandemia ensinou-nos a trabalhar em rede porque “estamos todos no mesmo barco”, como diz o Papa Francisco, e somos todos irmãos e irmãs.

Nossa presença solidária, alegre, bondosa e comprometida com a dignidade humana, como o fez o Ir. Carlos de Foucauld, é o primeiro passo da evangelização. É “gritar o Evangelho com a vida”, como ele mesmo nos disse. Acreditamos firmemente na força evangelizadora do testemunho pessoal e comunitário. Sua canonização, em maio passado, nos confirma neste modo de anunciar o Evangelho e nos encoraja a compartilhar nosso carisma com outros presbíteros de diferentes dioceses e países da América, onde nossa Fraternidade Sacerdotal ainda não está presente.

A frequência com que o Papa Francisco menciona o Ir. Carlos em seus documentos oficiais, em seus discursos e homilias nos mostra que seu testemunho é uma riqueza e uma inspiração para a missão evangelizadora da Igreja hoje no mundo pós-pandemia, ferido pela fome, pela violência, pelas desigualdades e pelo secularismo. Sentimos a responsabilidade histórica de ser mais fiéis ao nosso carisma e de cultivá-lo mais intensamente com os meios próprios da nossa espiritualidade: adoração e eucaristia, revisão de vida, dia no deserto, vida fraterna e proximidade com os pobres.

Nosso trabalho evangelizador e solidário entre os mais abandonados e desprezados quer ser uma parábola de um mundo fraterno, uma semente do Reino que Jesus de Nazaré inaugurou e uma denúncia profética do pecado social. Nossa missão, animada pelo Espírito Santo, visa forjar a fraternidade no mundo de hoje, como nos ensina o Papa Francisco em Fratelli Tutti.

Agradecemos a Deus porque nesta assembleia fizemos a experiência desta fraternidade, vivida no diálogo respeitoso, na alegria e na busca de novos caminhos para nossa ação evangelizadora. Estamos conscientes dos pontos fortes e fracos de nossas fraternidades na América, principalmente o envelhecimento de muitas delas, mas valorizamos e queremos inspirar-nos no testemunho de fidelidade de nossos irmãos mais velhos. Nós os agradecemos porque perseveraram nestes longos anos, tentando construir “uma Igreja pobre para os pobres”, como disse o Papa Francisco no início de seu pontificado, muitas vezes sofrendo incompreensões, marginalização e descrédito.

Queremos continuar fortalecendo nossa comunhão continental através do intercâmbio de experiências missionárias, da formação de uma Equipe Panamericana para animar nossas fraternidades e da realização do primeiro Mês de Nazaré panamericano, que acontecerá na República Dominicana, de 2 a 28 de julho de 2023.

Finalmente, agradecemos a Fernando Tapia, do Chile, por seu serviço como Responsável Continental por seis anos e oferecemos nosso apoio e nossas orações ao novo Responsável Panamericano, Carlos Roberto dos Santos, da Fraternidade do Brasil.

Colocamos nossas fraternidades sob a proteção de Maria, Nossa Senhora da Visitação.

Membros da Terceira Assembleia Panamericana
Córdoba, 23 de setembro de 2022

PDF: CARTA DE CÓRDOBA, pt

Carta de quaresma 2021 a todos os irmãos do mundo. Eric LOZADA

Mas agora, declara Yahvé, volta a mim com todo teu coração, jejuando, chorando e lamentando-te. Rompei vossos corações e não vossos vestidos, e volvei a Yahvé, vosso Deus, porque êlel é clemente e compassivo, lento para a ira, rico em amor fiel, e se arrepende de infligir desastres. (Joel 2,12-13)

Todos nós, quando fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte. Por nosso batismo em sua morte, fomos sepultados com ele, para que assim como Cristo ressuscitou de entre os mortos pelo poder glorioso do Pai, também nós devemos começar a viver uma nova vida … [ ] nosso eu anterior foi crucificado com ele … [ ] e agora a vida que vive é a vida com Deus. Da mesma maneira, devéis ver a vós mesmos como mortos ao pecado mas vivos para Deus em Cristo Jesus. (Romanos 6,3-11)

Saudações a todos vós, meus queridos irmãos!

Em quanto vos escrevo, tenho presentes cada um de vós e as complicadas realidades que cada um de vós encontra devido a esta crise global. Parece que a pandemia nos está revelando nossas fortalezas e nossas debilidades, nas relações pessoais, nacionais e globais, nos âmbitos económico, político e religioso. A pandemia é um momento de grande revelação, como diz o P. Richard ROHR e como parece dar a entender o Papa Francisco em quanto se involucra numa reconstrução sistemática de nossas estruturas globais em Fratelli Tutti. Não desejo acrescentar nada ao seu magnífico trabalho. Antes bem, pretendo situar nossa celebração da Quaresma com o que a pandemia revela e ensina a nosso mundo. Gostava de visualizar a celebração da Quaresma como uma viagem em espiral descendente: quanto mais nos adentramos, mais vemos o que se esconde nos corações humanos e nas subculturas de nosso mundo que nos retêm como reféns na masmorra do pecado, o medo, a indiferença, violência. Se todos empreendemos esta viagem juntos com honestidade e firme resolução, chegaremos ao fundo no que se originam todas as mentiras do pecado, os enganos e distorções deste mundo. Este é nosso sepulcro com Cristo, como diz São Paulo, onde nosso homem velho é sepultado com Cristo para que o Pai possa dar á luz uma nova vida em nós, em Cristo. É minha esperança que ao fim de nossa viagem de quaresma de 40 dias através da Páscoa, como os apóstolos depois da ressurreição, todos caminhemos com renovada alegria e coragem clamando a mensagem do amor e a felicidade de Deus para nosso mundo.

Nossa viagem começa com aquilo que propõe o profeta Joel: “Volta”, “volta-te a Deus com todo teu coração”. Começamos a viagem com uma pergunta: De quem sou? A quem se dirige o mundo? Se dermos um olhar demorado e amoroso ao mundo e a nós mesmos, parece que o mundo, nós, temos muitos deuses falsos (manifestos o ocultos) aos que adoramos, cuidamos, damos todo nosso tempo e energia. Nossa sociedade aditiva parece ter formas de idolatra profundamente enraizadas, substituindo o verdadeiro Deus de nosso mais profundo anseio pelos falsos deuses da vida superficial. Por isso, o Profeta recomenda jejuar, chorar e lamentar.

Necessitamos jejuar daquelas coisas que alimentam nossas mentes e corações todos os dias, que são tóxicas e não derivam dos valores do Evangelho. Necessitamos chorar pela violência, a injustiça, a indiferença, a cobiça deste mundo porque, de maneira muito sutil, estamos operando sob seu feitiço. Lamentamos os erros do passado e aprendemos a não os repetir. São Paulo chama isto um batismo em Cristo, que é também um batismo em sua morte. Nosso batismo é nossa iniciação e nossa comunhão no Mistério Pascal. A que coisas estamos dispostos a morrer por Jesus e o Evangelho? Necessitamos dar nome a nossa morte. E na passividade de nossa morte em Cristo, a obra redentora do Pai em nós e em nosso mundo nos restaura á vida original de graça.

Quando morremos conscientemente ao velho eu, o eu que está escravizado pelo pecado, nos tronamos livres e vazios de nós mesmos, mas vivemos plena e autenticamente na nova vida de Cristo e em Cristo

E assim, queridos irmãos, que todos nos comprometamos nesta viagem da escravatura á liberdade, do medo á confiança, da escuridão á luz, do pecado á graça. Que este caminho seja nosso humilde mas sincero presente ás pessoas que nos foram confiadas e a nosso mundo angustiado, fragmentado e violento.

Permiti-me expressar também meu profundo reconhecimento por vosso humilde testemunho do Evangelho e o zeloso cuidado pelos pobres nos próprios lugares de trabalho, especialmente neste momento da pandemia. Meu agradecimento a nossos irmãos que escreveram os cinco textos e aos tradutores desses textos. Tinham o propósito de preparar-nos espiritualmente para a canonização do irmão Carlos. Permiti-me convidar aqueles que não leram e refletiram sobre esses textos, a aceder a eles em nosso site www.iesuscaritas.org . E para aqueles que sim o fizeram, continuem voltando a eles.

Complementando nossa viagem de Quaresma, pensei em introduzir o processo de renovação. Em minha correspondência com o cardeal STELLA da Congregação para o Clero, foram-me colocadas importantes questões sobre como somos em termos de nossa fidelidade ao carisma do irmão Carlos e como estamos crescendo em missão como sacerdotes diocesanos inspirados por sua espiritualidade. Destas conversas nasce a ideia de elaborar um inquérito global. Em vez de responder a estas perguntas sozinho, pensei em todos nós juntos numa aventura de encontrar e recuperar nossas preciosas gemas que podem estar ocultas para nós, mas que continuam inspirando-nos. Proponho um processo em duas fases.

A primeira fase se centrará mais nos factos. Aqui, faço um chamamento aos irmãos responsáveis locais, nacionais ou regionais e continentais para que realizem a obra principal. Vós, irmãos responsáveis locais, deveis proporcionar-nos dados de vossa fraternidade local sobre quantos são os membros regulares e outra informação importante. Quando chegar o formulário do inquérito, leiam-no detidamente. Tende em conta que os dados que estais proporcionando a nossa fraternidade global sejam certos. Uma nota sobre os membros regulares. São irmãos que estiveram participando regularmente na reunião mensal durante ao menos um ano ou estiveram conectando-se digitalmente com vós ou com algum dos irmãos da fraternidade local. Se o irmão está num lugar longínquo mas se conecta regularmente, ainda poderia ser um membro regular. Irmãos que estão interessados em nossa espiritualidade mas que no puderam comprometer-se a assistir regularmente ás reuniões ou manter correspondência regular, chamam-se “simpatizantes”. A chave é o compromisso. O formulário do inquérito chegará de vosso responsável nacional ou do país. Tendes um prazo de duas semanas para preencher o formulário e o devolver a vosso responsável nacional ou regional. Vos agradeço sinceramente vossa generosidade.

A segunda fase será alguns meses ou um ano depois. O processo será como uma revisão comunitária de nossas vidas sobre como estamos crescendo em termos de nossa fidelidade ao carisma do irmão Carlos e como estamos crescendo em nosso zelo missionário como sacerdotes diocesanos inspirados pelo irmão Carlos.

Muito obrigado, queridos irmãos. Por favor, sabei que continuo tendo vosso continente e vosso pais em minha oração. Tende a bondade de me segurar também em vossa oração. Preciso disto.

Com alegria fraterna,

Eric LOZADA, responsável internacional

Dumaguete, Filipinas, fevereiro 2021

PDF: Carta de Quaresma 2021 de Eric, port

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TUDO É GRAÇA. A última carta de Antoine CHATELARD

Tudo é graça! Acolhemos o Natal e o ano novo ao mesmo tempo que o Covid-19. Édouard e Paul-François testaram positivo, Immanuel e eu negativo, ontem à noite, segunda-feira, logo depois da visita de uma sobrinha de Édouard que veio de Paris em 16 e 17 de dezembro. Por isso nos organizamos diante de uma situação nova, sem saber o que virá nos próximos dias.

Obrigado por suas notícias e suas felicitações de fim de ano. Quase todas elas chegam a mim após um silêncio que pode ser explicado pelos acontecimentos deste ano tão especial, que desafiam hábitos e relacionamentos normais. É também uma nova forma de reviver a nossa história ao longo dos anos que deixaram marcas com as celebrações de personagens históricos que não marcaram a minha história enquanto estive longe da França e sem possibilidades de informações, as quais nós temos agora.

Para aqueles que têm dúvidas sobre meus trabalhos e meu novo livro, devo dizer que ele não será lançado antes que a data da canonização seja anunciada, obviamente por razões comerciais. Ele está na editora há mais de um ano, e só falará sobre Charles de Foucauld em Tamanrasset, começando pelo histórico em Asekrem, onde ele permaneceu apenas alguns meses em 1911 e que continua sendo uma fonte de perguntas sobre suas reais motivações. Segue-se um capítulo sobre suas ocupações no ano seguinte em Tamanrasset (1912), típico de sua concepção dos assuntos mundiais. O capítulo 3 se limitará às suas únicas passagens programadas em Marselha em 1913, com um jovem tuaregue, que nunca foi mencionado antes, mesmo nos livros mais recentes. Finalmente, no último capítulo, o único dia de 1/12/1913 em Tamanrasset nos permitirá vê-lo ao vivendo seus vários trabalhos, e tentando seguir sua programação revisada e corrigida.

Esta será apenas uma introdução a outros assuntos que merecem esclarecimentos e ainda podem nos revelar uma forma de santidade nem sempre evidente. Soube há pouco que nosso Papa Francisco não se contentou em concluir sua encíclica Fratelli Tutti falando do Irmão Carlos, mas que, também ofereceu uma biografia desse futuro santo aos membros da Cúria Romana, sem dizer de qual livro se refere. Ao concluir a “Fratelli tutti”, mencionando nosso irmão Carlos, ele me encorajou a continuar meu trabalho para mostrar com mais detalhes como era sua vida fraterna com os homens e mulheres que ele amava, não apenas pelo tempo de um dia, mas todos os dias, durante os últimos anos de sua vida. São centenas de pessoas que vieram ao [lugar] que ele chamou de “a fraternidade” quando ele ainda sonhava em reunir discípulos, mas onde ele esteve sempre sozinho.

Nos primeiros anos, ele apenas anotava os nomes dos destinatários de suas esmolas e seus pequenos presentes em folhas soltas que não se encontram nas edições de cadernos. Não é sem importância porque nos faz conhecer centenas de pessoas que conhecemos, desde os primeiros anos. Por outro lado, nos últimos três anos ele anotou os nomes deles, e percebemos que alguns vieram centenas de vezes. Esses números são importantes para entender a importância dessas visitas recebidas, além daquelas que ele fará entre uns e outros.

Ele, que nos primeiros anos não saía mais de cem metros, já não hesita em viajar quilômetros para visitar os doentes, mas também para visitar a sua nova casa ou para ver seu jardim, enquanto vivia muito ocupado com seu trabalho linguístico, com seus momentos de oração e com uma correspondência muito abundante. Gostaria de mostrar que ele nada fez para convertê-los, mesmo que falasse disso algumas vezes, mas sente-se no dever de trabalhar pela salvação deles como se fosse a sua, amando-os como eles são e como Jesus os ama. É assim que a preocupação pela salvação de todos se exprime nas listas diárias, anotadas em seus cadernos, e também nos seus raros escritos pessoais ou em suas muitas cartas.

Então, aprendo a contar essas pessoas, surpreso ao descobrir que muitas ainda estavam vivas quando cheguei a Tamanrasset e Asekrem em 55 e até muito mais tarde.

Certamente ele ainda tem algo a dizer à nossa Igreja e ao mundo, mesmo que não seja novo. O reconhecimento oficial e universal da sua santidade será um bom conforto para todos aqueles que se referem a ele em todo o mundo e especialmente entre os bispos, sacerdotes e leigos, religiosos e religiosas que se deixaram inspirar por ele e que já faleceram, depois de ter cumprido sua missão no mundo. [Este reconhecimento] será, acima de tudo, um apelo aos jovens que já não se interessavam mais por este testemunho de outro século.

Sim, obrigado a Francisco, nosso Papa, que poderia ter terminado citando novamente Francisco de Assis e que nos falou de Carlos como se ele lhe tivesse um papel importante no futuro da Igreja e do mundo, após a pandemia universal, que atrasa sua canonização. Nunca falamos tanto sobre nosso bem aventurado como recentemente, com a morte do bispo Dom Teissier, em seu dia de festa. O Embaixador da Argélia na França exprimiu-se numa linguagem profética, fazendo dele um santo, e sobretudo um compatriota. A canonização não acrescentará muito a essas cerimônias em Lyon e em Nossa Senhora da África. Muitos viram a Revista “En Dialogue” com nº 14, sobre Carlos de Foucauld e os muçulmanos, divulgada pouco antes desses acontecimentos.

Devo admitir que o envelhecimento não melhora minhas possibilidades de mobilidade, mesmo dentro de casa e apesar das sessões de fisioterapia ao ar livre. Estes compromissos diários me ocupam mais do que o meu trabalho sobre Foucauld, e a perspectiva muito distante de ver o meu livro ser publicado não me encoraja a trabalhar, mesmo que as perguntas de toda a parte, incluindo Tamanrasset e outras partes da Argélia, me obriguem a responder sobre detalhes que não me afastem de sua história.

A todos um feliz Natal e um melhor Ano 2021
Antoine

PDF: Tudo é graça. A última carta de Antoine CHATELARD – PT