Nosso irmão Abraham APOLINARIO, Vigário geral de Santo Domingo

Abraham Apolinario

Abraham Apolinario

O Arcebispo de Santo Domingo, a Diocese mais antiga da América, República Dominicana, Francisco OZORIA, de nossa fraternidade, nomeou nosso irmão Abraham APOLINARIO Vigário-geral.

Para todos é uma grande alegria, e nós lhe desejamos todo o sucesso em seu trabalho de coração e a ajuda de Deus.

Um abraço para todos os irmãos do mundo!

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O lugar de Deus é sempre entre os últimos

“Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos o observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: “Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (…). (Do Evangelho do 22.º Domingo do Tempo Comum, Lucas 14, 1.7-14)

Nosso Senhor Jesus Cristo surpreendia os bem-pensantes: era um rabino que gostava dos banquetes, apreciava estar à mesa, ao ponto de ser chamado «glutão e bebedor de vinho, amigo de pecadores» (Lucas 7, 34); fez do pão e do vinho os símbolos eternos de um Deus que faz viver, do comer juntos uma imagem feliz e vital do mundo novo.

Dizia aos convidados uma parábola, notando como escolhiam os lugares mais importantes. Os fariseus: tão devotos, tão austeros em relação à aparência, e por dentro devorados pela ambição. Jesus critica-os, citando um passo famoso, extraído da antiga sabedoria de Israel: «É melhor que te digam: “Sobe para aqui” do que seres humilhado diante de um príncipe» (Provérbios 25, 7).

Dizia: quando fores convidado, vai para o último lugar, mas não por humildade ou por modéstia, mas antes por amor: coloco-me depois de ti porque quero que tu sejas servido antes e melhor. O último lugar não é uma humilhação, é o lugar de Deus, que «começa sempre pelos últimos da fila» (S. Orione); o lugar daqueles que querem assemelhar-se a Jesus, que veio para servir, e não para ser servido.

Jesus reage à eterna corrida aos primeiros lugares opondo «a estes sinais do poder o poder dos sinais». Uma expressão de Dom Tonino Bello, bispo italiano e ex-Presidente da Pax Christi, que ilustra a estratégia do Mestre: vai para o último lugar, não por um sinal de indignidade ou de desvalorização de ti, mas por sinal de amor e de criatividade. Porque gestos destes geram uma reviravolta, uma inversão de rota na nossa história, abrem o caminho para um modo de habitar a Terra totalmente outro. Acolhe aqueles que ninguém acolhe, dá àqueles que nada te podem restituir. E serás feliz porque não têm o que te dar em troca (1).

CHARLES DE FOUCAULD

“Humildade de Jesus: imitemo-Lo. Busquemos o último lugar… fazermo-nos pequenos… Pelo exemplo, a humildade, o abaixamento, a vida escondida…”.

Charles de Foucauld
Meditações sobre o Evangelho (2)

Vivemos numa era em que o sistema religioso está tomado pela espetacularização. A espiritualidade de Charles de Foucauld é um contraponto para quem busca o testemunho evangélico no silêncio da oração, no deserto, no serviço aos pobres, no anonimato inspirado na vida oculta de Jesus em Nazaré. A busca do primeiro lugar é incompatível com a caminhada foucauldiana e é um escândalo ao ensinamento do Evangelho de Cristo. É da doutrinação ortodoxa saber que toda honra, glória, louvor, adoração e majestade pertencem a Santíssima Trindade.

A busca do primeiro lugar está conectada ao poder, ao domínio, a idolatria do dinheiro e a luxúria. Nesse contexto, a fama, a glória e o troféu é a realização carnal, egoísta do narcisismo e do hedonismo. O fato de o religioso ser assim torna-o muito pior do que o não religioso. No campo da religião tal prática é uma abominação que fora dele não há igual!

O Senhor bom Deus não associou a salvação à ciência, à inteligência, à riqueza, ao poder, a uma longa experiência religiosa de ritos, sacrifícios, pagamentos de promessas, peregrinações e atos grandiosos, e nem a dons espetaculares. Associou-se sim, àquilo que estão ao alcance de todos os seres humanos de todas as idades e classes, raças, tribo e em qualquer lugar ou em qualquer situação em que a pessoa esteja vivendo. Todos são acolhidos nos braços amorosos do Pai misericordioso. É em Jesus que nos fazermos pequenos, de tomarmos o último lugar, de obedecermos; que liga ainda à pobreza de espírito, à pureza de coração, ao amor da justiça, ao espírito da paz e de comunhão (Mt 5,3ss).

A soberba, a exaltação, o pedantismo e a síndrome do Facebook, (ser imagem para aparecer) não combinam de forma alguma com a humildade, simplicidade, pobreza e com espírito da Família de Nazaré. Não é compatível a vida evangélica com o show mundano. Não há nenhuma conexão do seguidor do Reino de Deus com o reino capitalista de Satanás.

Conselho de Charles de Foucauld: “Lembremos sempre uns aos outros esta história dupla: a das graças que Deus nos deu pessoalmente desde o nascimento e a das nossas infidelidades; e aí acharemos […] motivos infinitos para nos perdermos, com ilimitada confiança, no Seu amor. Ele ama-nos porque é bom, não porque somos bons; não amam as mães os filhos desencaminhados? E muitas razões havemos de encontrar para nos enterrarmos na humildade e na falta de confiança em nós próprios. Procuremos resgatar um pouco os nossos pecados pelo amor ao próximo, pelo bem feito ao próximo. A caridade para com o próximo, os esforços para fazer bem aos outros são um excelente remédio a opor às tentações: é passar da simples defesa ao contra-ataque”.

Pe. Inácio José do Vale
Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas
Irmãozinho da Fraternidade da Visitação de Charles de Foucauld

 Notas

(1) ErmesRonchi- http://www.snpcultura.org/o_lugar_de_Deus_sempre_entre_os_ultimos.html

(2) Foucauld, Charles de. Meditações sobre o evangelho. Tradução de Nuno de Bragança. Lisboa: Círculo do Humanismo Cristão, 1962, pp. 112 e 113.

Charles de Foucauld e a Bíblia. Inácio José do Vale.

Escreve o Bem-aventurado Charles de Foucauld: “Estudemos com todo o nosso coração os santos evangelhos e creiamos neles: creiamos nestas palavras, creiamos nestes exemplos e pratiquemo-los com a fé, com o amor que se deve às palavras e aos exemplos de Deus”.

Foi pela fé e pela obediência que Noé se salvou. Ele acredita na palavra de Deus e obedece em tudo. Peçamos o mesmo. Acreditemos em tudo o que sabemos que é palavra de Deus, em tudo o que contém o ensinamento da Igreja. E obedeçamos a tudo o que Deus quer que obedeçamos: aos seus mandamentos, aos da sua Igreja, aos dos nossos superiores eclesiásticos, aqueles dos nossos diretores espirituais.

Para que vejais como se resiste às tentações, considerai que é preciso resistir-lhes imediatamente, a partir do momento em que se apresentam, desde o primeiro instante. Um excelente meio para combatê-las é enfrentá-las com palavras da Sagrada Escritura, que em sua origem tragam uma força divina.

É necessário conhecer bem a Sagrada Escritura: lê-la, relê-la, meditá-la, aprofundá-la constantemente, se o vosso diretor vo-lo aconselha. Não é somente a utilidade da vossa alma, não somente o meu exemplo, mas é o respeito e o amor que me deveis que fazem com que façais disto um dever, visto que quando falo deveis dar-me ouvidos – e a Escritura é a minha palavra.

EM NAZARÉ

Depois de três anos em Nazaré, percebe que já está assumindo novamente um estilo de vida burguesa que lhe desagrada e intimamente o angustia. Transforma a capela em seu lugar preferido. Ás vezes é visto sobraçando uma pilha de livros: Bíblia, obras de Santa Teresa, São João da Cruz, tratados de teologia. Ajoelha-se diante d’Aquele de quem os livros balbuciam pequenas verdades.

Neste período descobre o livro da Sagrada Escritura mais amado pelos místicos que, como diziam as escolas rabínicas, “não suja as mãos”, o Cântico dos Cânticos. Esta pérola do amor inflamado entre Deus e a alma é transcrita pacientemente, amorosamente nos trechos mais íntimos e cheios de amor.

Ele copia quarenta páginas do Cântico dos Cânticos, trechos e trechos juntam-se aos já copiados. São João da Cruz sabia de cor este poema e no momento de sua morte pediu que lhe lessem estas pérolas preciosas. Teresa D’Ávila ousa, no século XVI, comentá-lo e o considera um livro maravilhoso.

LER A BÍBLIA

Como és bom, como és meigo! Muito obrigado, meu Senhor e Meu Deus! Faze que eu seja agradecido… Como devo ser agradecido!… Como devo ler esta Bíblia cujas páginas falam de Jesus; esta Bíblia que o próprio Deus inspirou e que tornou assim tão doce!… Como devo, a exemplo de Deus, não só empenhar-me ao máximo para ajudar os meus irmãos, os outros filhos de Deus, a fim de adquirir os verdadeiros bens, a salvação; mas proporcionar-lhes também todas as consolações, todos os alívios espirituais e materiais que podemos oferecer-lhes, conquanto isto em nada prejudique o bem das almas.

LEITURA NO ESPÍRITO DO AMOR

As nossas leituras, as nossas orações, os nossos trabalhos, façamo-los sempre em comum; temos o desejo de falar com os nossos irmãos, no meio deles, d’Aquele que está no meio de nós: que toda a nossa vida transcorra em sociedade com os nossos irmãos.

Pratico o bem com as almas na medida em que os meus atos são atos de Jesus… Os meus atos são atos de Jesus na medida em que vivo no Espírito Santo… Eu vivo do Espírito Santo na medida em que vivo do amor divino, porquanto o Espírito Santo é Espírito de Amor… Eu vivo de amor divino na medida em que estou repleto do único amor de Deus… Estou repleto do único amor de Deus na medida em que estou desapegado de tudo o que foi criado…

A PALAVRA DO BEM-AMADO

É a tua palavra, meu Deus, a palavra do esposo, do noivo, do bem-amado, a palavra de que se beija cada letra. E, para cúmulo de felicidade, nesta palavra o bem-amado me fala de si (revela-se), retrata-se, manifesta-se, desvenda seus segredos, me diz o que espera de mim, o que quer que eu faça, como posso agradar-lhe, ser agradável, servi-Lo, glorifica-Lo, consolá-Lo, como deseja que eu faça todas as coisas. Nela me pinta Seu coração, a Sua alma, os Seus sentimentos, conta-me as Suas ações e me diz: segue-as, segue-me os exemplos… Finalmente, fala-me de si, d’Ele que é o meu tudo, e me diz como poderei glorifica-Lo, qual a finalidade da minha vida, o meu único escopo.

O ZELO

O zelo pela salvação dos pecadores, os benefícios espirituais que devem ser feitos ao próximo, os benefícios materiais que devem ser-lhe feitos, o perdão das injúrias e a clemência… Zelo pela salvação dos pecadores.

PENSAMENTOS

“Consagre todo tempo possível à oração e às santas leituras que unirão a mim” (Resoluções do retiro em Nazaré, começo de novembro de 1897).

“Ao despertar rezo as matinas, depois medito por escrito os santos Evangelhos, e os Salmos até o toque do Angelus… Então vou para igreja…” (Carta ao Padre Huvelin, Nazaré, 16/10/1898).

“Não nos contentemos em ler as palavras de Nosso Senhor, em meditá-las, aprova-las e pregá-las: apliquemo-las, vivamo-las, tornemo-las parte da nossa vida. É isto o que distingue uma alma religiosa de uma alma mundana: aquela orienta a sua vida segundo as palavras de Jesus, esta orienta-a segundo princípios humanos. Vivamos na fé, não fazendo caso da razão humana que é loucura diante de Deus, e regulando a nossa existência em conformidade com as palavras da sabedoria divina que é loucura diante dos homens” (Meditações dobre o Evangelho).

CONCLUSÃO

Amar o bom Deus é amar a Sagrada Escritura. A palavra de Deus é a nossa principal leitura. Tudo fazemos para buscar com maior profundidade o conhecimento da Bíblia e viver seus maravilhosos ensinamentos. Ler, estudar e viver a palavra de Deus é caminhar para eternidade no amor a Santíssima Trindade, ao próximo e a toda humanidade.

Pe. Inácio José do Vale
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas
Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld

Bibliografia

  • SCIADINI, Patrício (org.). Viajante Noturno, Charles de Foucauld, São Paulo: Cidade Nova, 1987.
  • SCIADINI, Patrício (org.). Viajante Noturno, Charles de Foucauld, São Paulo: Cidade Nova, 1987.
  • FOUCAULD, Charles de. Cartas e anotações. Tradução das monjas dominicanas de São Paulo. São Paulo: Paulinas, 1970.SCIADINI, Patrício (org.). Viajante Noturno, Charles de Foucauld, São Paulo: Cidade Nova, 1987.
  • FOUCAULD, Charles de. Meditações sobre o evangelho. Tradução de Nuno de Bragança. Lisboa: Círculo do Humanismo Cristão, 1962.