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(Français) Honoré SAWADOGO (Burkina Faso): Recollection avec les Fraternités de L’Île de France, de Basse et de Haute Normandie
(Français) Honoré SAWADOGO (Burkina Faso): Le réception, encore nouvelle, de la figure de Frère Charles en Afrique noire
(English) Mark MERTES: Howie Calkins in the Paradox of 21st Century Fraternity
A decadência da figura do padre (Inácio José do VALE)
Em Milão, o Papa Francisco afirma que Igreja Católica tem de ser capaz de “encarar os desafios de frente”.
“A Igreja precisa sempre ser restaurada porque é feita de todos nós, que somos pecadores. Deixemo-nos sermos restaurados por Deus, por sua misericórdia. Deixemo-nos limpar nossos corações, disse o pontífice. Respondendo sobre a secularização e a sociedade multiétnica, multirreligiosa e multicultural de Milão, Francisco disse que uma das primeiras coisas que lhe vem em mente é a palavra “desafio”. Todas as épocas históricas, desde o início do cristianismo, foram submetidas a numerosos desafios, tanto na comunidade eclesial como na social. Não devemos temer os desafios, aliás, é bom que existam, porque são sinais de uma fé e de umas comunidades vivas que buscam o Senhor. Devemos temer quando uma fé não representa um desafio; elas fazem com que a fé não se torne ideologia. A Igreja, em toda a sua história, sempre teve algo para nos ensinar em relação à cultura da diversidade: as dioceses, os presbíteros, as comunidades, as congregações”, afirmou o Papa Francisco. (Milão, 25/03/2017).
Depois de Cinco Séculos Declina a Figura do Padre
“O declínio quantitativo das ordenações desenha, há dois séculos, uma curva descendente diante da qual se fecham os olhos, especialmente aqueles que estão sob uma mitra episcopal”.
O comentário é de Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, em Bolonha, em artigo publicado por La Repubblica, 22/03/2017. A tradução é de Ramiro Mincato.
Alguns grandes ciclos históricos terminaram com eventos estrondosos. Outros, ao contrário, encerraram-se quase despercebidamente, embora não menos importantes do que aqueles aos quais a ereção de um monumento ou uma linha de texto num manual escolar concedem eterna glória. No silêncio exauriu-se um grande ciclo: a do padre. Esta formidável invenção do século XVI, que moldou a cultura e a política, a psicologia e a vida interior, a arte e a teologia do Ocidente e das suas antigas colônias não desapareceu (são cerca de 420 mil padres no mundo), mas, há mais de três séculos, está em crise: na Itália, em noventa anos passamos de 15 mil para cerca de 2.700 seminaristas.
Claro que fatores extrínsecos têm algum peso: amanhã a desgraça da pedofilia que a lente da mídia faz parecer um crime específico dos padres; ontem, a preguiça das autoridades em discutir o celibato eclesiástico; hoje, a simonia soft que remunera presenteando dioceses – prêmios dados para quem “fabrica” padres numerosos ou vistosos. Conta ainda nesta fase histórica a reverberação sobre o clero da queda das qualidades intelectuais das classes dirigentes às quais pertencem tanto aqueles que escolhem o sacerdócio como aqueles que o conferem. A questão se encrava ainda mais profundamente na história.
O padre que conhecemos tem data precisa de nascimento: o Concílio de Trento, concluído em 1563. E o enorme esforço com o qual tentou marcar uma cesura (contestada pelos protestantes que, em vez, acusavam a Igreja Católica de continuidade com o abuso) da reforma de Lutero. Tarde, mas com coragem, o Concílio tentou inventar remédios desconhecidos: impôs, por exemplo, aos bispos a residência na diocese, impedindo-os de assídua frequência à corte papal. E inventou o padre: este, caçoado pela literatura e pelo cinema, o homem feito sábio somente pelos insucessos, santificado pelo peso institucional daquilo ao qual se doa.
O zelo eclesiástico em condenar tudo a que se pode colar o sufixo “ismo”, empobrece suas leituras e torna-o estranho aos “seus”, que se tornam, de repente, “distantes”. A perda do papel e a negligência afetiva o expõe ao pior: da insípida exaltação do celibato que aprisiona a sexualidade em busca de sublimação até atrair ao presbiterato pessoas não resolvidas, ou mesmo doentes. Sua qualificação torna-se o nome de um vício nunca combatido suficientemente: o clericalismo.
Solidão e Sexo Virtual
De acordo com o teólogo e psicoterapeuta Wunibald Müller, os padres se sentem cada vez mais sozinhos. Por isso, é justo que eles possam viver em uma comunidade, se se quiser ajudá-los.
Em uma carta aberta, alguns padres da diocese de Colônia, por ocasião do 50º aniversário da sua ordenação presbiteral, põem em discussão a obrigatoriedade do celibato para o clero católico. Um dos motivos citados por eles é a solidão. O Dr. Wunibald Müller se ocupou por 25 anos de padres em crise na Recollectio-Haus, em Münsterschwarzach. Ele explica como os padres vivem em solidão e as suas consequências. Diz ele: “Esse vazio, por parte de alguns padres, é substituído por um excesso de comidas e bebidas. Outra compensação é a do sexo virtual na internet, que, nos últimos anos, aumentou entre padres e colaboradores eclesiais”. (Reportagem de Christian Wölfel, publicada no site Domradio, de 15/01/2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto).
A Luta dos 90.000 Padres Casados da Igreja Católica
Dos sacerdotes casados no último meio século (desde o Concílio Vaticano II, em 1965), se disse que eram desertores. De uma década para cá aparecem como profetas. Em todo o mundo existem cerca de 90.000, dos quais pouco mais de 6.500 são espanhóis. São muitíssimos, se considerarmos que a Igreja romana tinha 413.418 sacerdotes (19.058 na Espanha) no ano passado, além de um grave problema de vocações. Com o número de católicos que conta o Vaticano (1,214 bilhão), a relação entre pastores e ovelhas (segundo a terminologia usual) é preocupante, de acordo com estimativas do próprio papa Francisco: 2.939 paroquianos por sacerdote e 236.555 por bispo. Essa é a primeira análise do Congresso Internacional da Federação Europeia de Padres Católicos Casados, que acontece neste fim de semana no centro de congressos Fray Luis de León, Guadarrama (Madri).
A Europa é o continente em que mais se vê a crise do catolicismo. “Uma vinha devastada pelos javalis do relativismo”, disse em 2010 o papa emérito Bento XVI. À diminuição das vocações sacerdotais, se junta um decréscimo de 9% dos padres ativos e o envelhecimento dos clérigos restantes (66 anos de média de idade). Os padres casados são a solução, ou melhor, a solução seria decretar o celibato opcional, não obrigatório, como fizeram outras religiões cristãs, e até mesmo abrir o sacerdócio para a mulher, como as igrejas protestantes? Francisco tem essas opções sobre a mesa. Ele mesmo reconheceu que a flexibilização das leis do celibato é uma porta aberta, descartando radicalmente, por outro lado, a ordenação de mulheres. Ele disse isso em abril de 2014, forçado por declarações prévias de seu secretário de Estado, o arcebispo Pietro Parolin, que haviam causado um curioso sobressalto midiático. “O celibato obrigatório não é um dogma da Igreja e pode ser discutido porque é uma tradição eclesiástica”, disse o primeiro-ministro do Papa. (Reportagem de Juan G. Bedoya, publicada por El País, 01/11/2015).
O sistema religioso vivido em nossa era é o mais terrível em toda história da humanidade. Provam o número de martírios, o terrorismo do fundamentalismo religioso, o ateísmo, a desconstrução do sagrado, o interesse econômico da teologia da prosperidade, e espetacularização de figuras religiosas nos palcos da luxúria, os cismas continuam e seus mentores excomungados, líderes religiosos ídolos do poder, tradicionalismo ante-evangélico e a patologia nos altares e nos púlpitos. A falta de amor e de comunhão no campo eclesial é um câncer. No confronto dessa era tão tenebrosa e seus desafios, é importante a humildade, a ternura, a mente epistemológica, o coração tomado pelo fogo do Espírito Santo para construir soluções para o bem da Igreja, do seu clero, dos seus fiéis e da humanidade.
Frei Inácio José do Vale
Psicanalista Clínico
Professor e Conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Irmãozinho da Visitação de Charles de Foucauld
E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com
Fontes:
- https://pt.zenit.org/articles/em-milao-papa-afirma-que-igreja-catolica-tem-de-ser-capaz-de-encarar-os-desafios-de-frente/
- http://www.ihu.unisinos.br/espiritualidade/566059-a-missa-terminou-entao-depois-de-cinco-seculos-declina-a-figura-do-padre
- http://www.ihu.unisinos.br/564020-a-abolicao-do-celibato-obrigatorio-poderia-ajudar-entrevista-com-wunibald-mueller
- http://www.ihu.unisinos.br/169-noticias-2015/548573-a-luta-dos-90000-padres-casados-da-igreja-catolica
(Français) Ma petite vie à Tamanrasset, Jean Pierre LANGLOIS (Québec)
(Français) Jacques GAILLOT, Le visage est sens à lui seul
América Latina e suas misérias
No domínio da atualidade política internacional, o Papa Francisco assinalou que “o populismo é mau e acaba mal”, especialmente quando é entendido, à semelhança do que acontece na América do Sul, como “usar o povo” (1).
A insegurança é o grande tema político em quase toda a América Latina. Tornou-se um dos principais assuntos em praticamente todos os países. Quase 135.000 pessoas foram assassinadas no ano de 2015 na América Latina e no Caribe, segundo cifras do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que organizou uma reunião de especialistas durante uma semana em Buenos Aires. Essa violência e seu combate têm um custo de cerca de 120 bilhões de dólares (384 bilhões de reais) por ano, o que equivale a 200 dólares (640 reais) por habitante. Tanto que a América Latina poderia ter um PIB per capita 25% maior se alcançasse cifras de insegurança semelhantes às do resto do mundo (2).
“Região mais desigual do mundo, a América Latina continua sendo a mais violenta. Se a insegurança reflete a brutalidade dos índices sociais de países devastados pelo neoliberalismo, ela também sublinha o fracasso de governos progressistas, muitas vezes envolvidos em corrupção”, escrevem Carlos Santiso e Nathalie Alvarado (3).
América Latina, uma região ignorada na campanha presidencial americana
Após mais de um ano de discursos e debates, a campanha presidencial nos Estados Unidos chegou ao fim sem que nenhum candidato tenha expressado uma ideia geral sobre a forma como o futuro governo se relacionará com a América Latina.
Esta região do mundo com uma população de mais de 600 milhões de pessoas e que possui laços históricos e comerciais com os Estados Unidos foi praticamente ignorada na campanha, com a notável exceção das grosserias proferidas por Donald Trump. Em determinados momentos, especialmente nos debates, o candidato republicano e sua rival, Hillary Clinton, falaram até cansar sobre a catástrofe na Síria, o futuro do Iraque, as relações entre israelenses e palestinos ou o que fazer com Rússia e Irã.
Mas a crítica situação humanitária no Haiti, o êxodo migratório centro-americano, a consolidação de um processo de paz na Colômbia, a interminável crise política na Venezuela, a instabilidade no Brasil ou a proximidade com o novo governo na Argentina foram temas sequer mencionados por Trump ou Hillary.
Apenas o México conseguiu um lugar privilegiado na campanha, e da pior forma possível. Trump lançou sua candidatura ditando o tom de sua postura sobre os imigrantes, ao dizer que muitos mexicanos eram estupradores e que se propunha a construir um gigantesco muro na fronteira com o México. Trump também propôs revisar todos os acordos comerciais dos Estados Unidos – em especial o que o país mantém com Canadá e México -, outra declaração que acendeu o alerta no subcontinente.
– Reversão em Cuba – Durante um ato na Flórida, Trump afirmou que pretende reverter o curso da política de reaproximação com Cuba, iniciada pelo presidente Barack Obama em 2014, mas sua visão política da região não passou disso. No fim de agosto, o governo do México arriscou ao convidar Trump e Hillary para reuniões, talvez com a esperança de que a candidata democrata aceitasse o desafio e que o polêmico milionário o rejeitasse.
A aposta não poderia ter sido mais desastrosa: Hillary simplesmente ignorou o convite e Trump terminou fazendo uma coletiva de imprensa junto ao presidente Enrique Peña Nieto, como se fossem dois presidentes em exercício. A poucos dias da eleição, o site oficial da campanha de Hillary inclui uma versão em espanhol, mas em nenhum lugar é explicada a visão de política externa de uma candidata presidencial que já foi secretária de Estado.
Enquanto isso, o site da campanha de Trump inclui uma seção sobre política externa, mas ela está dedicada a temas como a necessidade de derrotar o grupo Estado Islâmico e “vencer a ideologia terrorista do radicalismo islâmico”.
Para Michael Shifter, presidente do Inter America Dialogue, em Washington, este quadro é resultado de uma campanha “que esteve vazia de ideias políticas e que foi impulsionada por slogans e frases de efeito”.
Por sua vez, Lisa Haugaard, do centro Latin America Working Group (LAWG, em Washington), concordou que “não ocorreram, na realidade, discussões profundas e sofisticadas sobre nenhum tema de política externa nesta campanha”. Inclusive as discussões sobre outras regiões do país comentaram a especialista, abordaram a discussão do ângulo das ameaças aos Estados Unidos, e não do ponto de vista da diplomacia.
– O vácuo ou a continuidade -No entanto, esta ausência de discussão não é necessariamente uma coisa a ser lamentada. Para Shifter, “diante da sordidez e do baixo nível da campanha, a maioria dos governos da América Latina deve estar aliviado por ficar de fora do radar e não ter atraído às atenções” (4).
Os recursos financeiros gerados pela atividade superam o PIB (Produto Interno Bruto) de vários países juntos, mas muitas vezes o dinheiro é usado para manutenção do crime, financiar guerrilhas e conflitos ideológicos. A desigualdade é fruto de uma política que confere para si e para o grupo o capital e não administrado em prol do povo. O tráfico favorece a corrupção, a violência, a prostituição e uma infinidade de problemas que faz parte da realidade de grande parte dos países latinos. Não podemos esquecer a exploração do sistema religioso por falsos líderes religiosos que manipulam e escravizam seus adeptos com promessas enganosas. Tudo isso aumenta muita mais a pobreza, a infelicidade e as doenças do corpo e da mente.
Frei Inácio José do Vale
Professor e conferencista
Sociólogo em Ciência da Religião
Formador dos Irmãozinhos da Visitação da Fraternidade de Charles de Foucauld
E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com
Notas:
(1) http://www.snpcultura.org/papa_fala_de_homens_casados_celibato_crises_de_fe_cristicas_e_populismos.html
(2) http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/26/internacional/1474909844_140495.html
(3) http://diplomatique.org.br/inseguranca-endemica-na-america-latina/
(4) http://pt.aleteia.org/2016/11/06/america-latina-uma-regiao-ignorada-na-campanha-presidencial-americana/?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt
Orientações gerais para o mês de Nazaré
Fernando Tapia Miranda, pbro.
Responsável Panamericano de IESUS CARITAS.
A I Assembleia Panamericana de nossa Fraternidade Sacerdotal realizada a Cuernavaca, México, em fevereiro do 2015, propôs á Equipe Internacional “convocar uma equipe de quatro pessoas para realizar um estudo específico sobre a identidade, finalidade, conteúdos e modo de realizar o Mês de Nazaré que permita redigir um documento com Orientações Comuns, respeitando as particularidades culturais de cada país. Esse documento seria apresentado para sua aprovação na próxima Assembleia Geral”1.
A Equipe Internacional acolheu esta proposta e na sua reunião de Outubro de 2016, resolveu solicitar a Manuel Pozo (Espanha), Jean Michel Bortheirie (França) e Fernando Tapia (Chile), constituir essa comissão e redigir um documento sobre o Mês de Nazaré.
Os três aceitamos este encargo e trabalhamos desde nossos lugares de origem, estudando artigos dos boletins IESUS CARITAS sobre o Mês de Nazaré, recolhendo experiências e materiais já elaborados para anteriores meses de Nazaré de diferentes países.
Finalmente reunimo-nos em Almería, Espanha, do 20 ao 24 de fevereiro de 2017 para fazer nosso trabalho. Manuel Pozo acolheu-nos em sua paróquia Nossa Sra. de Monserrat com grande espírito fraterno. Iniciamos nossa Jornada diária com a adoração eucarística e as laudes e a culminamos na tarde com a Eucaristia, junto á comunidade paroquial.
Os três tínhamos experiência tanto em receber como em dar o Mês de Nazaré, pelo que o trabalho foi muito fluido, muito participativo e muito agradável. O principal marco inspirador foi para nós o texto aprovado na Assembleia Internacional realizada por nossa Fraternidade, em Argélia, no ano 1982, titulado “O Mês de Nazaré” e que foi incorporado nas últimas edições do Diretório.
Nosso trabalho tem como destinatários principais os Responsáveis Regionais e suas Equipes, bem como os Coordenadores dos Meses de Nazaré e suas Equipes. Contém uma Primeira Parte com Orientações de tipo geral em relação ao que é o Mês de Nazaré, seus Objetivos, os critérios para sua realização, o perfil do Coordenador do Mês, as etapas de sua realização e o decorrer de um dia tipo.
Tem também uma Segunda Parte (a mais longa) com esquemas para os temas de reflexão, preguntas para o trabalho pessoal ou grupal e esquemas para as meditações da semana de retiro, com alguns exercícios para a oração pessoal. Querem ser uma ajuda para os expositores á hora de preparar tanto os temas de reflexão como as meditações do retiro.
Damos graças a Deus pela possibilidade de colaborar neste trabalho tão importante para nossa Fraternidade e o colocamos nas mãos da Equipe Internacional que nos encomendou esta tarefa.
Almeria, 25 de fevereiro de 2017.