Por trás de cada vacina Covid-18 existe uma grande e intelectualiísima mulher. José Inácio do VALE

Por trás de cada vacina Covid-19, existe uma grande e intelectualíssima mulher

A cientista britânica Dra. Sarah Gilbert, diretora do grupo de Oxford, ela realmente foi em frente, estudando vetores virais por décadas para combater – entre outras coisas – a MERS: o coronavírus do Oriente Médio a partir do qual Oxford partiu para desenvolver tão rapidamente a vacina usada hoje contra o Covid.

Dra. Sarah é uma vacinologista britânica que é professora de vacinologia na Universidade de Oxford e co-fundadora da Vaccitech. Ela é especializada no desenvolvimento de vacinas contra influenza e patógenos virais emergentes. Ela liderou o desenvolvimento e teste da vacina universal contra a gripe, que passou por testes clínicos em 2011. Em 30 de dezembro de 2020, a vacina COVID-19 que ela co-desenvolveu com o Oxford Vaccine Group foi aprovada para uso no Reino Unido.

Se recebemos as primeiras doses da primeira vacina BioNTech dez meses depois do aparecimento do coronavírus, é também porque a Dra. Katalin Karikò há trinta anos não desistiu de seu trabalho, apesar dos golpes. Nascida em uma impronunciável cidade húngara – Kisújszállás – mantida entre dormitórios e bolsas de estudo na Universidade de Szegen, ela trocou a Hungria pelos EUA em 1985 com seu marido, uma filha de dois anos. Ninguém jamais acreditou em seus estudos sobre o RNA e possíveis aplicações no campo das vacinas. Só em 2013 conseguiu levar suas patentes para a empresa alemã BioNTech, da qual atualmente é vice-diretora (depois de também ter recebido uma oferta de trabalho da Moderna). Nada de pressa, cada frasco injetado hoje tem atrás de si a história pessoal, os fracassos e depois a capacidade de dezenas de pesquisadores de se superarem.

A cientista Katalin é uma bioquímica húngara especializada em mecanismos mediados por RNA. Sua pesquisa tem sido o desenvolvimento de mRNA transcrito com vitro para terapias com proteínas. Incrível seu trabalho na Universidade da Pensilvânia, BioNTech.

Do outro lado do Atlântico, na parceira da BioNTech, a multinacional Pfizer, trabalha a mulher que a Nature incluiu entre os dez cientistas de 2020: a Dra. Kathrin Jansen, diretora de pesquisa e desenvolvimento de vacinas da empresa, mãe de vacina contra papilomavírus. Com os 650 membros de sua equipe, ela coordenou em tempo recorde os testes da vacina de RNA desenvolvida pela BioNTech, de abril a novembro.

A cientista alemã Kathrin é Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas da Pfizer. Anteriormente, ela liderou o desenvolvimento da vacina do HPV (Gardasil) e de versões mais recentes da vacina pneumocócica conjugada (Prevnar). Completou seu doutorado na Universidade de Marburg, onde estudou as vias químicas em bactérias. Depois de obter seu diploma, mudou-se para a Universidade Cornell como bolsista de pós-doutorado da Fundação Alexander von Humboldt.

Na Novavax, outra empresa estadunidense que está prestes a desenvolver um remédio para a Covid, encontramos a Dra. Nita Patel, diretora de desenvolvimento da vacina. Ela também mostra o quão longe a ciência pode ir, quando você se empenha com tenacidade. Nascida na aldeia de Sojitra, no estado indiano de Gujarat, Patel, vem de uma infância de miséria, com seu pai incapacitado por tuberculose quando ela tinha 4 anos. E é justamente com uma vacina contra essa doença que Patel começou a trabalhar, antes de se jogar no turbilhão da Covid.

A cientista Nita Patel é uma renomada pesquisadora responsável pelo imunizante – que usa um inovador sistema de células de mariposa para produzir proteínas. Durante sua trajetória, apesar de todos os desafios, sua excelência acadêmica a impulsionou para a faculdade com bolsas do governo. Mais tarde, ela conseguiu dois títulos de mestrado, na Índia e nos Estados Unidos, em microbiologia aplicada e biotecnologia. Sua genialidade, por sinal, anda junto a uma memória fotográfica incrível: ao dirigir, Nita precisa ter cuidado para não olhar para os números das placas, ou irá memorizá-los. Agora, desde que a pandemia chegou, ela afirma: “meu dia simplesmente não acaba. E é o mesmo com todos os outros aqui”, disse à revista Science. Ainda assim, Nita projeta serenidade e bom ânimo para o futuro. “Para mim, nada é impossível. Então, tendo essa mentalidade, honestamente, nada me estressa”, finalizou.

Para uma profunda reflexão

Marie Curie (1867-1934), foi uma cientista e física polonesa naturalizada francesa, que conduziu pesquisas pioneiras em todo o mundo no ramo da radioatividade. Foi a primeira mulher a ser laureada com um Prêmio Nobel.

Ela disse: “Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade”.

De forma colossal, parabenizo essas grandes e intelectualíssimas mulheres que sacrificam suas vidas, trabalham incansavelmente e com tamanha responsabilidade, realizam ciência em prol da saúde da humanidade. Meus sinceros elogios, reconhecimentos e monumental honras a essas renomadas mulheres!

Dr. Inácio José do Vale
Psicanalista Clínico, PhD
Qualificado em Psicologia Clínica e Educacional
Pós-graduado em Psicologia nas Organizações com Habilitação em Docência no Ensino Superior pela Faculdade Educamais de São Paulo-SP.
Psicologia, Educação e Desenvolvimento pela Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo-SP.
Doutorado em Psicanálise Clínica pela Escola de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea. Rio de Janeiro-RJ. Esta é reconhecida e cadastrada na Organização das Nações Unidas – ONU (United Nations Department of Economic and Social Affairs).
Autor do livro Terapia Psicanalítica: Demolindo a Ansiedade, a Depressão e a Posse da Saúde Física e Psicológica

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Texto 5. O diálogo no intinerário espiritual do irmâo Carlos. Jean-François BERJONNEAU

Jean-François BERJONNEAU, France

O Irmão Carlos viveu sessenta anos antes do Concílio Vaticano II.

A noção de diálogo inter-religioso tal qual ouvimos atualmente na Igreja era totalmente estranha para ele. Embora eu acredito que ele tenha sido um precursor das aberturas do Concílio à dimensão universal da missão da Igreja, o processo de diálogo entre os crentes cristãos e os muçulmanos enquanto tal não se enquadra nessas categorias. Ele viveu com a teologia de seu tempo, com medo de se juntar aos muçulmanos para salvar “essas almas ignorantes”, fazendo-as conhecer a Cristo.

Além disso, ele desempenhou seu ministério em um contexto sócio-político específico. A França, em sua época, estendia seu império colonial sobre parte da África. Na época, muitos acreditavam que ela estava fazendo um trabalho civilizador e que poderia fornecer a educação necessária para libertar os povos colonizados da pobreza e da ignorância. O irmão Carlos aderiu a este objetivo. Ele, portanto, não via no Islã de seu tempo uma religião com consistência própria, com sua história e suas diferentes correntes, com algumas das quais os cristãos pudessem dialogar.

Embora o Islã tivesse exercido sobre ele, num determinado momento de sua vida, um certo fascínio e o encontro com os muçulmanos constituísse para ele uma etapa não desprezível no caminho de sua conversão, ele estava longe de concordar com a visão conciliar do Islã segundo a qual “A Igreja olha com estima os muçulmanos que adoram o Único Deus, vivo, misericordioso e todo-poderoso, criador do céu e da terra, que falou com os homens …” (Nostra Aetate nº 3). Não foi, portanto, na problemática teológica do Concílio Vaticano II, que reconhece nas religiões não cristãs a presença de “sementes da Palavra” que podem constituir uma base para entrar em diálogo com os crentes de outra religião.Portanto, não se encontrava na problemática teológica do Concílio Vaticano II, que reconhecia nas religiões não cristãs a presença de “sementes da Palavra” que podem constituir uma base para entrar em diálogo com os crentes de outra religião.

Sem dúvidas, parece-me que podemos considerar o Irmão Charles como um precursor do diálogo. Pois ele instituiu com as populações muçulmanas que conheceu, em particular com os tuaregues, um “diálogo de vida” que foi então apresentado pela encíclica “Ecclesiam Suam” do Papa Paulo VI em 1964, como base fundamental para qualquer diálogo: “Não podemos salvar o mundo exterior; como a Palavra de Deus que se fez homem, devemos assimilar, em certa medida, as formas de vida daqueles a quem queremos levar a mensagem de Cristo … Devemos compartilhar seus usos comuns, desde que sejam humanos e honestos, especialmente os costumes dos mais pequenos, se quisermos ser ouvidos e compreendidos. Antes mesmo de falar, é necessário escutar a voz, e mais ainda, o coração do homem … Devemos fazer-nos irmãos dos homens … O clima de diálogo é a amizade” nº 87.

Assim, o Irmão Charles, dedicando toda a sua energia e grande parte do seu tempo para aprender a língua dos tuaregues com os quais compartilhava a vida, desenvolvendo conversas muito simples sobre a realidade do seu quotidiano, abrindo-se a eles, à sua poesia e, assim, procurando entender a genialidade deste povo, soube abrir, pelo diálogo com os seus anfitriões, um clima de confiança a tal ponto que se tornou, para muitos, “um amigo”. Assim, mostrou que a missão da Igreja é também suscitar irmãos, respeitando as diferenças culturais ou religiosas, como a Igreja fez posteriormente em muitos países do planeta, impulsionada pelas aberturas do Concílio Vaticano II.

Podemos, portanto, reconhecer, como padres membros da Fraternidade sacerdotal Jesus Caritas, que o Irmão Carlos nos abriu uma espiritualidade de diálogo que ainda pode nos inspirar nos encontros que vivemos não só com os muçulmanos, mas também com todos aqueles que não compartilham nossa fé. Assim, o caminho de diálogo que ele abriu com os tuaregues desdobrou-se em vários movimentos fundamentais:

  • Ele soube distanciar-se de tudo para mergulhar no país do outro. Ele realizou este movimento que o Papa Francisco chama de “uma Igreja em saída”. Ele queria ser acolhido por essas pessoas e tornar-se, tanto quanto possível, “um deles”. E fez do aprendizado da língua deles (os tuaregues) uma obra mística, porque isto tinha, para ele, o sentido da encarnação de Cristo nesta humanidade que ele veio salvar.
  • Embora seu maior desejo fosse que os muçulmanos se convertessem à fé cristã, ele nunca exerceu qualquer pressão para alcançar seus objetivos. Ele sempre respeitou a liberdade deles. Em 1908, ele reconheceu que não faria nenhuma conversão e concluiu que provavelmente não era a vontade de Deus. Mas ele permaneceu no meio desse povo tuaregue em nome da aliança que fizera com eles, simplesmente para avançar no caminho da fraternidade com eles.
  • Seu objetivo: tornar-se amigo do outro. Em uma carta que endereçou a um correspondente, ele caracterizou o modo de relacionamento que queria adotar com os muçulmanos ao seu redor: “Primeiro, preparar o terreno em silêncio por meio da bondade, do contato íntimo, exemplo; amá-los do fundo do coração, ser estimado e amado por eles; Desse modo, quebrar preconceitos, ganhar confiança, adquirir autoridade – isso leva tempo – depois falar em particular aos mais dispostos, com muita prudência, e, pouco a pouco, de várias maneiras, dando a cada um conforme sua capacidade de receber.” Não podendo anunciar explicitamente o Evangelho, ele quis fazer de sua própria pessoa a presença do Evangelho. Era isso o que ele entendia quando disse que queria “gritar o Evangelho não com as palavras, mas com toda sua vida”
  • Ele soube adaptar-se à maneira como Deus olha para os muçulmanos que conheceu. Ele não os viu primeiramente como “infiéis” ou “descrentes”, mas, em seu desejo de se tornar um irmão universal, ele os considerou “irmãos amados, filhos de Deus, almas redimidas pelo sangue de Jesus, amadas almas de Jesus ”
  • Ele manifestou o rosto de uma Igreja diaconal. Ele não somente morou com eles, mas também contribuiu, na medida de suas possibilidades, para a melhoria de suas condições de vida e para o desenvolvimento do país. Ele lutou contra a escravidão, combateu as doenças, introduziu a medicina, novas técnicas agrícolas e meios de comunicação neste país tão pobre.
  • Sempre que pôde, ele abriu um diálogo espiritual com os muçulmanos. Claro que ele não aderiu à doutrina do Islã de forma alguma. Mas ele reconheceu nela um ponto em comum com a fé cristã: o duplo mandamento de amar a Deus de todo o coração e de amar o próximo como a si mesmo. Com base nisso, ele desenvolveu numerosos diálogos com seus amigos muçulmanos, mostrando-lhes em várias circunstâncias como esse duplo mandamento poderia se desenvolver em suas relações diárias.
  • Finalmente, e este não é um dos menores elementos do diálogo, ele fez do mistério pascal o caminho real para o diálogo. Pois, contemplando constantemente a vida de Cristo em Nazaré, como Ele percorreu o caminho da humildade, da pobreza, da escuta e do morrer para si mesmo no encontro com o outro. Ao longo de sua vida, ele demonstrou que “não há maior amor do que dar a vida por aqueles que você ama.”

Apresentando-se como “um pioneiro”, mostrou-nos que o diálogo da vida faz parte integrante da missão da Igreja.

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Texto 4. Nosso modo de evangelizar

Fernando Tapia, Chile

Como sacerdotes diocesanos, partilhamos com toda a Igreja a única missão que lhe pertence: evangelizar. O Papa Francisco nos deu orientações muito claras para fazer isso em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”. Fazemos nossas as suas próprias orientações, e tentamos nos inspirar nelas para nossa ação evangelizadora em nossas paróquias, comunidades, centros de formação cristã, centros de acolhimento dos mais pobres, etc.

No entanto, a pergunta é válida se nós, enquanto presbíteros da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, desenvolvermos algumas características particulares nascidas no carisma do Irmão Carlos e em nossa espiritualidade. Nós pensamos que sim, e apresentamos, abaixo, algumas dessas características

1. O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

Nosso modo de evangelizar é marcado, em primeiro lugar, pelo mistério da Encarnação, mistério que fascinou o Irmão Carlos e está na raiz de sua espiritualidade:

“A encarnação está enraizada na bondade de Deus. Mas uma coisa aparece, primeiro, tão maravilhosa, brilhante e assombrosa que brilha como um sinal deslumbrante: é a humildade infinita que contém tal mistério. Deus, o Ser, o Infinito, a Perfeição, o Criador, o imenso Onipotente, Senhor soberano de tudo, fazendo-se homem, unindo uma alma e um corpo humano e aparecendo na terra como um homem, e o último dos homens ” (EsEs p.49.)

A encarnação sempre ocorre num determinado tempo, lugar e cultura. O Irmão Carlos fez um ótimo trabalho ao conhecer a cultura dos tuaregues, sua língua, seus costumes, sua poesia, etc. Queremos sempre ter em conta o contexto histórico, as características do tempo e da cultura em que evangelizamos, porque estamos convencidos de que Deus prolonga a sua encarnação em cada época e que Cristo Ressuscitado continua falando conosco por meio dos sinais dos tempos, convidando-nos a construir o seu Reino de vida.

Levando em conta que Cristo entra no mundo pela “porta dos pobres”, como disse Dom Enrique Alvear, nós também gostaríamos de entrar por essa porta em nossa ação evangelizadora, e daí anunciar o Evangelho a todos.

2. AS PERIFERIAS

Em espírito de disponibilidade para com os nossos Bispos, queremos dar prioridade aos locais mais abandonados e mais afastados da Igreja. As periferias geográficas ou existenciais, como diz o Papa Francisco. São os lugares de fronteira: populações marginais, campos distantes, campos de refugiados, migrantes, dependentes químicos, privados de liberdade, excluídos em geral. Esta proximidade nos permitirá ouvir e atender ao clamor dos pobres, que às vezes é muito fraco e outras vezes impetuoso. E usando meios pobres, basicamente nossa própria presença amigável e misericordiosa. 1

Irmão Carlos nos diz:

“Devo buscar sempre o último dos últimos lugares, para ser, também, tão pequeno como o meu Mestre, para estar com ele, caminhar atrás d’ele, passo a passo, como servo fiel, discípulo fiel e – visto que, em sua infinita bondade, incompreensível, ele se digna a falar assim – como um irmão e fiel esposo” (EsEs p.68).

“Este banquete divino, do qual sou ministro, é necessário apresentá-lo não aos irmãos e parentes, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, às almas mais abandonadas e à falta de padres … Eu pedi e obtive permissão para me estabelecer no Saara Argelino”. (EsEs p.80).

Se formos enviados para lugares mais ricos, gostaríamos de ser agentes de sensibilização social e fazedores de pontes entre os ricos e a realidade dos pobres.

Viemos como amigos e irmãos dos pobres. Descobrimos Deus já presente em seus gritos e aspirações. Nós, por sua vez, deixamos os pobres nos evangelizar e enriquecer nosso ministério.

3. TESTEMUNHO PESSOAL

Em todos os lugares, mas principalmente nos lugares marginalizados, queremos dar prioridade à evangelização com o testemunho mais que com a palavra. Testemunho marcado pela proximidade, simplicidade, acolhimento, bondade, interesse pelo que acontece com o outro, serviço concreto, alegria interior. Escrevia o irmão Carlos a um amigo:

“Quer saber o que posso fazer pelos nativos. Não é possível falar diretamente com eles sobre nosso Senhor. Isso os faria fugir. Há que inspirar-lhes confiança, ser amigo deles, prestar-lhes pequenos serviços, dar-lhes bons conselhos, travar amizade com eles, exortá-los discretamente a seguir a religião natural, mostrar-lhes que os cristãos os amam. (EsEs p.84).

Já no retiro de novembro de 1897, havia formulado o seu modo de evangelizar com esta frase, posta na boca de Jesus: “Aceite tua vocação: a de anunciar o Evangelho sobre os telhados, não com a tua palavra, mas com a tua vida”.

Isso não significa que negligenciamos o ministério da Palavra. Sabemos que é parte essencial da nossa missão despertar e alimentar a fé: “A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). O Concílio Vaticano II diz isso claramente no decreto sobre “Ministério e vida dos presbíteros”: “A palavra da salvação desperta a fé no coração dos não crentes, e a fortalece no dos que já acreditam. Com a fé, começa a se desenvolver a comunidade dos fiéis.”2

4. NOSSA ESCOLHA DA FRATERNIDADE

Por escolhermos a fraternidade, privilegiamos o trabalho em equipe com outros presbíteros, sejam eles da nossa Fraternidade ou não, diáconos, religiosos e religiosas ou leigos. Queremos ser mais irmãos do que tiranos, mestres ou senhores religiosos, como diz o Concílio: “Os presbíteros vivem com os outros como irmãos”.3 O Irmão Carlos se antecipou ao Concílio a esse respeito quando busca e valoriza o trabalho com os leigos:

“Ao lado dos padres, são necessários Priscilas e Aquilas, para ver aqueles que o padre não vê, para penetrarem nos lugares onde ele não pode ir, para irem ao encontro daqueles que fogem, para evangelizarem com um contato benfeitor, com uma bondade transbordante antes de tudo, e com um afeto sempre pronto a doar-se, com um bom exemplo que atraia aos que deram as costas ao padre e lhe são hostis por princípio.” (de Assekrem, 3 de maio de 1912).

Por isso mesmo, queremos dar tempo à formação dos leigos, ao acompanhamento espiritual deles e apoiar a formação de comunidades fraternas, respeitando o ritmo de cada pessoa.

Igualmente, acreditamos na fraternidade como forma de vida, uma fraternidade universal, que inclui pessoas que não pertencem à Igreja, caracterizada pela amizade, reciprocidade e diálogo.

Da mesma forma, nossa opção pela fraternidade nos leva a favorecer a participação dos leigos na coordenação pastoral de nossas paróquias, evitando todo autoritarismo e clericalismo de nossa parte e toda passividade por parte dos leigos. A existência de conselhos pastorais, conselhos de assuntos econômicos, equipes de animação das diversas áreas pastorais e movimentos, assembleias paroquiais, planejamento pastoral feito em conjunto, etc., devem ser uma marca distintiva das paróquias ou de outras estruturas pastorais confiadas aos nossos cuidados.

5. VIDA ESPIRITUAL E EUCARISTIA

Este modo de evangelizar supõe uma vida espiritual muito profunda em cada um de nós que nos leve a contemplar Jesus nos Evangelhos, para nos configurarmos cada vez mais com Ele, graças à ação do Espírito Santo em nós. Ele nos capacitará para entrar na dinâmica da descida, do rebaixamento, do despojamento, típica do mistério da Encarnação, deixando muitas coisas por Ele e pela fidelidade ao Evangelho: preconceitos, bens materiais, prestígio, busca de poder, seguranças, etc. Nos dará a liberdade interior para encontrar novos caminhos e campos na tarefa evangelizadora da Igreja, buscando sempre a vontade do Pai, com infinita confiança.

O nosso impulso missionário, sobretudo de chegar e permanecer nos lugares mais difíceis, é sustentado pela celebração da Eucaristia, pela Adoração diária e pelos outros meios de crescimento espiritual próprios da nossa Fraternidade. Eles nos ajudam a tomar consciência do amor infinito de Deus por nós, da sua fidelidade e misericórdia e conduzem-nos à missão.

A Eucaristia deve tornar-se, para nós, um estilo de vida caracterizado pela partilha do pão, da palavra e histórias pessoais, inclusive com pessoas de outras tradições religiosas.

Devemos promover uma experiência espiritual semelhante entre os leigos, se quisermos transformar nossas paróquias no sentido missionário que o Papa Francisco deseja: uma Igreja “em saída” que, sem medo de acidentes ou de manchar-se nas lamas do caminho, vai em busca dos afastados e descartados pela sociedade4.

Por outro lado, a Eucaristia nos abre à pertença a um Corpo eclesial cada vez mais amplo. Queremos estar muito conscientes de que a Evangelização é uma missão partilhada com toda a Igreja diocesana e universal. Como presbíteros diocesanos, queremos ser os primeiros a sentir-nos parte de um presbitério, com seu bispo à frente, apoiando a gestação e a implementação de projetos diocesanos, aos quais contribuímos com nosso carisma e nossos dons pastorais.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL E A ORAÇÃO

  1. Você adicionaria algo a este esquema?
  2. A estrutura pastoral em minha paróquia, centro de formação, etc. está caminhando nesta direção?
  3. Quais características nosso estilo de vida pessoal deve ter para sermos coerentes com esta forma de evangelizar?

PDF: Texto 4 – Nosso modo de evangelizar – PT

TUDO É GRAÇA. A última carta de Antoine CHATELARD

Tudo é graça! Acolhemos o Natal e o ano novo ao mesmo tempo que o Covid-19. Édouard e Paul-François testaram positivo, Immanuel e eu negativo, ontem à noite, segunda-feira, logo depois da visita de uma sobrinha de Édouard que veio de Paris em 16 e 17 de dezembro. Por isso nos organizamos diante de uma situação nova, sem saber o que virá nos próximos dias.

Obrigado por suas notícias e suas felicitações de fim de ano. Quase todas elas chegam a mim após um silêncio que pode ser explicado pelos acontecimentos deste ano tão especial, que desafiam hábitos e relacionamentos normais. É também uma nova forma de reviver a nossa história ao longo dos anos que deixaram marcas com as celebrações de personagens históricos que não marcaram a minha história enquanto estive longe da França e sem possibilidades de informações, as quais nós temos agora.

Para aqueles que têm dúvidas sobre meus trabalhos e meu novo livro, devo dizer que ele não será lançado antes que a data da canonização seja anunciada, obviamente por razões comerciais. Ele está na editora há mais de um ano, e só falará sobre Charles de Foucauld em Tamanrasset, começando pelo histórico em Asekrem, onde ele permaneceu apenas alguns meses em 1911 e que continua sendo uma fonte de perguntas sobre suas reais motivações. Segue-se um capítulo sobre suas ocupações no ano seguinte em Tamanrasset (1912), típico de sua concepção dos assuntos mundiais. O capítulo 3 se limitará às suas únicas passagens programadas em Marselha em 1913, com um jovem tuaregue, que nunca foi mencionado antes, mesmo nos livros mais recentes. Finalmente, no último capítulo, o único dia de 1/12/1913 em Tamanrasset nos permitirá vê-lo ao vivendo seus vários trabalhos, e tentando seguir sua programação revisada e corrigida.

Esta será apenas uma introdução a outros assuntos que merecem esclarecimentos e ainda podem nos revelar uma forma de santidade nem sempre evidente. Soube há pouco que nosso Papa Francisco não se contentou em concluir sua encíclica Fratelli Tutti falando do Irmão Carlos, mas que, também ofereceu uma biografia desse futuro santo aos membros da Cúria Romana, sem dizer de qual livro se refere. Ao concluir a “Fratelli tutti”, mencionando nosso irmão Carlos, ele me encorajou a continuar meu trabalho para mostrar com mais detalhes como era sua vida fraterna com os homens e mulheres que ele amava, não apenas pelo tempo de um dia, mas todos os dias, durante os últimos anos de sua vida. São centenas de pessoas que vieram ao [lugar] que ele chamou de “a fraternidade” quando ele ainda sonhava em reunir discípulos, mas onde ele esteve sempre sozinho.

Nos primeiros anos, ele apenas anotava os nomes dos destinatários de suas esmolas e seus pequenos presentes em folhas soltas que não se encontram nas edições de cadernos. Não é sem importância porque nos faz conhecer centenas de pessoas que conhecemos, desde os primeiros anos. Por outro lado, nos últimos três anos ele anotou os nomes deles, e percebemos que alguns vieram centenas de vezes. Esses números são importantes para entender a importância dessas visitas recebidas, além daquelas que ele fará entre uns e outros.

Ele, que nos primeiros anos não saía mais de cem metros, já não hesita em viajar quilômetros para visitar os doentes, mas também para visitar a sua nova casa ou para ver seu jardim, enquanto vivia muito ocupado com seu trabalho linguístico, com seus momentos de oração e com uma correspondência muito abundante. Gostaria de mostrar que ele nada fez para convertê-los, mesmo que falasse disso algumas vezes, mas sente-se no dever de trabalhar pela salvação deles como se fosse a sua, amando-os como eles são e como Jesus os ama. É assim que a preocupação pela salvação de todos se exprime nas listas diárias, anotadas em seus cadernos, e também nos seus raros escritos pessoais ou em suas muitas cartas.

Então, aprendo a contar essas pessoas, surpreso ao descobrir que muitas ainda estavam vivas quando cheguei a Tamanrasset e Asekrem em 55 e até muito mais tarde.

Certamente ele ainda tem algo a dizer à nossa Igreja e ao mundo, mesmo que não seja novo. O reconhecimento oficial e universal da sua santidade será um bom conforto para todos aqueles que se referem a ele em todo o mundo e especialmente entre os bispos, sacerdotes e leigos, religiosos e religiosas que se deixaram inspirar por ele e que já faleceram, depois de ter cumprido sua missão no mundo. [Este reconhecimento] será, acima de tudo, um apelo aos jovens que já não se interessavam mais por este testemunho de outro século.

Sim, obrigado a Francisco, nosso Papa, que poderia ter terminado citando novamente Francisco de Assis e que nos falou de Carlos como se ele lhe tivesse um papel importante no futuro da Igreja e do mundo, após a pandemia universal, que atrasa sua canonização. Nunca falamos tanto sobre nosso bem aventurado como recentemente, com a morte do bispo Dom Teissier, em seu dia de festa. O Embaixador da Argélia na França exprimiu-se numa linguagem profética, fazendo dele um santo, e sobretudo um compatriota. A canonização não acrescentará muito a essas cerimônias em Lyon e em Nossa Senhora da África. Muitos viram a Revista “En Dialogue” com nº 14, sobre Carlos de Foucauld e os muçulmanos, divulgada pouco antes desses acontecimentos.

Devo admitir que o envelhecimento não melhora minhas possibilidades de mobilidade, mesmo dentro de casa e apesar das sessões de fisioterapia ao ar livre. Estes compromissos diários me ocupam mais do que o meu trabalho sobre Foucauld, e a perspectiva muito distante de ver o meu livro ser publicado não me encoraja a trabalhar, mesmo que as perguntas de toda a parte, incluindo Tamanrasset e outras partes da Argélia, me obriguem a responder sobre detalhes que não me afastem de sua história.

A todos um feliz Natal e um melhor Ano 2021
Antoine

PDF: Tudo é graça. A última carta de Antoine CHATELARD – PT